segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Meditacão

Precisei de chegar aos 52 anos de idade para passear o cão. 


As férias das minhas filhas assim o determinaram. A alegria do Leo quando me aproximo para lhe por a coleira é do outro mundo. Ela salta e vibra como se fosse o maior dos presentes. É deslumbrante.


Vamos passear ou não?
Para que consiga apertar a coleira sem o magoar, puxando alguma da sua longa cabeleira, é importante que ele esteja sossegado. Sentado e muito compenetrado espera que o processo esteja concluído com uma fascinante paciência.
Põe lá a coleira!

Assim que abro a porta de casa, parte a correr para o elevador. E quando o elevador chega ao R/C parte a correr para a porta do prédio. A saída para o exterior é como que um renascimento e o lado para onde decide sair, em cada dia, é sempre uma nova vida: um renascer de descoberta e encantamento. Passo a passo seguimos felizes, iniciando uma pacífica meditação a dois.


Onde é que este caminho irá dar?
Vou sempre para onde ele me leva e apenas condiciono o seu andar quando se tenta meter debaixo dos carros, dentro de prédios, moradias ou qualquer área perigosa e por isso não recomendada. Com os seus passeios palmilhei percursos que ainda não tinha percorrido em 3 anos e tudo num raio inferior a 500 metros da minha casa. Enquanto passeamos, fazemos muitos contactos, sobretudo com pessoas fascinadas pela simpatia e encanto do Leo. Ele aproxima-se de quase todas as pessoas que generosamente retribuem com afecto e carinho.
Eu testemunho o relacionamento e usufruo também da experiência, partilhando um sorriso ou palavras de esclarecimento relativamente ao seu sexo, raça ou idade. São momentos em que eu e o Leo estamos muito ligados. Nos caminhos que percorremos, o Leo tem uma atitude incrível de explorador, usando o seu olfato e enfiando o seu nariz em tudo o que encontra. Quando não se perde com o olfato, cheirando tudo o que encontra no chão ( muitas vezes me questiono porque fica tanto tempo com a cabeça virada para baixo, chegando mesmo a parar por longos minutos ), caminha sempre com andar determinado, olhando para todo o lado como que procurando novidades, algo ou alguém que o fascine.



O seu passatempo preferido é deixar as suas marcas nos locais mais inesperados. As suas marcas mais sólidas sou obrigado a recolher, fazendo-me acompanhar de um pequeno saquinho mas as outras, que se encontram num estado mais liquido, não me atrevo a remover, dando-lhe assim a alegria de deixar a sua presença bem dispersa por todo o percurso.



O tempo voa enquanto passeamos e diria que são minutos de uma meditação fantástica. Para mim meditação e para ele meditacão, como muito bem sugeriu um amigo quando lhe contei que iria escrever sobre esta experiência. Não sabemos exactamente o que eles pensam mas temos muito a aprender com estes nossos amigos. A alegria da descoberta e a felicidade num passeio.


O que é isto aqui?
O único dia em que o Leo fez as suas necessidades em minha casa foi assim que lá chegou. Como o levei logo a passear, nunca mais me deixou uma prenda no chão da casa e levou a sua preocupação tão a sério que até me parecia que ele só comia e bebia quando regressava dos passeios. Achei tão bonito este facto que me senti sempre na obrigação de o levar a passear sempre que possível.


Já estava mesmo cheio de fome...
Eu aprendi muito e sei que todos os aqueles com quem me cruzei, que tal como eu passeiam os seus pequenos amigos, também recebem muito nestes passeios.
Damos-lhes uma grande alegria mas recebemos muito mais em troca.
Que rica meditacão.

Manuel Filipe Santos.
Oeiras,
27 de Julho de 2018

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