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domingo, 19 de março de 2023

Obrigado José, pelo silêncio


Obrigado José, pelo silêncio


Obrigado, porque há muito partilhamos o silêncio de não saber dizer Deus, o espanto do inaudito que as nossas vidas tocaram.
Só o sonho foi capaz de se quebrar no teu silêncio, só o sonho foi capaz de explicar o inexplicável, só no sonho o silêncio se fez voz.
Mas sofreste. Sofreste no silêncio a obrigação de calar, silenciaste o sofrimento de calar por não saber dizer, por não poder dizer; por não saberes dizer Deus na tua vida.

Obrigado José, pelo silêncio,
Tu não sabias; eu continuo sem saber. Sem saber “dizer” Deus no meu tempo que me passa, tal como tu, na passagem do teu tempo que passou.
E calámos, calamos ainda hoje o silêncio do dizer, no fazer que nos ocupa de encontrar palavras.

Perdoa a veleidade com que falo, já muitas vezes falámos disto no silêncio… e continuaremos, como sempre, cada noite no silêncio e nas palavras que trocamos.
Palavras feitas de silêncios que falem e que digam o que nós não sabemos, sobretudo que nos digam de nós a nós, porque não sabemos, e por isso calamos. Calamos os nós da história que se impõe, das histórias que se impõem e que vivemos; tu e eu, protagonistas calados de um projeto bem maior, e o teu era gigantesco!
Obrigado José, pelo silêncio.
Obrigado José, pela partilha. Partilhamos ambos o filho sem ser nosso, mas que fizemos nosso…, e ambos foram embora… e nós calamos. Calámos as palavras no silêncio, falámos sem falar o amor que não partiu na ausência feita espera.
Obrigado José, pelo silêncio,
Obrigado José, pelas partidas,
Partidas e chegadas por chegar, voltas ao mundo do mundo das voltas que o mundo nos deu e que nós demos… voltas de partir e de chegar, de passar por Herodes e por medos, por Egiptos e por terras prometidas.
Continuaremos juntos, José.
Obrigado José, pelo silêncio.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

A lenda do quarto Rei Mago

A lenda do quarto Rei Mago

Dizem que houve um quarto rei mago que também viu a estrela brilhar e decidiu segui-la. Como presente, pensou em oferecer ao menino um baú cheio de pérolas preciosas.

No entanto, em seu caminho, ele encontrou várias pessoas que estavam pedindo sua ajuda.

O rei mago os auxiliou com alegria e diligência e doou uma pérola a cada uma dessas pessoas. Ele encontrou muitos pobres, doentes, aprisionados e miseráveis e não podia deixá-los sem ajuda. Ficou o tempo necessário para aliviar a dor de todos eles, depois partiu. Mas novamente encontrava outro desamparado pelo caminho. O rei tinha um coração nobre e bom e, mesmo ficando atrasado para chegar até o menininho, parava sua viagem e socorria todos os que dele necessitavam.  Ao partir entregava sempre uma de suas pérolas preciosas…

A estrela guia brilhava luminosa no alto céu noturno e o rei pôde segui-la com confiança.

Aconteceu que, quando finalmente chegou a Belém, os outros reis magos já não estavam mais lá. José, Maria e o menino Jesus também não estavam na casa indicada pela estrela-guia que agora brilhava cada vez mais suave até desaparecer no céu infinito. Os pais do menininho haviam recebido a visita dos anjos celestes a anunciar: “José, Maria, peguem o menino divino e fujam para as distantes terras do Egito. Herodes, o rei caído nas sombras, quer matar o menininho”. Eles imediatamente haviam se colocado a caminho.

O quarto rei mago decidiu, mesmo sem ter a estrela guia no céu, continuar sua busca até encontrar a criança divina. Ele sentia que a estrela brilhava também em seu coração e de lá ela o conduziria.

Ele procurou e procurou e procurou… e dizem que ele passou mais de trinta anos viajando pela terra, procurando a criança e ajudando os necessitados. Até que um dia chegou a Jerusalém justamente no momento em que o Cristo era crucificado. Conseguiu perceber, ao redor dele, o mesmo brilho da estrela que o guiara primeiro do céu e depois de dentro de seu coração. Eis a criança que ele havia procurado por tanto tempo.

A tristeza encheu seu coração, já velho e cansado pelo tempo. Embora ainda guardasse uma pérola na bolsa, era tarde demais para oferecê-la à criança que, agora, transformada em homem, pendia de uma cruz. Ele havia falhado em sua missão. E sem ter mais para onde ir, ficou em Jerusalém para esperar a morte chegar.

Apenas três dias se passaram quando uma luz, ainda mais brilhante do que mil estrelas, encheu seu quarto. O Ressuscitado veio ao seu encontro! O rei mago, caindo de joelhos diante dele, pegou a pérola que restava e estendeu-a a Jesus Cristo que a segurou e carinhosamente disse: “Você não falhou em sua missão. Pelo contrário, você me encontrou por toda a sua vida. Eu estava nu e você me vestiu. Eu estava com fome e você me deu comida. Eu estava com sede e você me deu de beber. Eu fui preso e você me visitou. Eu estava em todas as pessoas pobres que você ajudou no seu caminho. Muito obrigado por tantos presentes de amor! Agora você estará comigo para sempre, porque o céu é a sua recompensa”.


Autor/a desconhecido/a

fonte: Fernando Ventura

outra fonte (ano passado)

vídeo dedicado à Dora 
no dia da sua partida🙏




quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Ser humano

SER HUMANO


Aprende a amar sem condições.

A falar sem más intenções.

A dar sem motivo.

E acima de tudo, 

a cuidar dos outros 

sem esperar recompensa.

Fernando Ventura


 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

era uma vez…


Uma história, de era uma vez… para a noite de reis.

Era uma vez um incêndio. A floresta ardia incontrolável, aparentemente sem solução à vista. Os animais em fuga atropelavam-se na ânsia de chegar à clareira, ali ao lugar “seguro” para onde todos corriam. Salve-se quem puder! O tropel era impressionante! Na ânsia de chegar todos se atropelavam. Era assim que tinha que ser... não havia remédio... o incêndio era gigantesco!

De repente todos pararam, espantados com o colibri que se atrevia a voar ao contrário! Pequenino, frágil, voava ao contrário como se não houvesse amanhã.

- Onde vais? Não vês que está tudo a arder?

- Vou apagar o incêndio!

A gargalhada foi geral.

- Tu? Apagar o incêndio? Com um bico desse tamanho não levas mais do que uma gota de água! Achas que vais apagar o incêndio?

- Se calhar não, mas eu faço o que posso!

Era uma vez…

Que saudades que eu tenho do tempo em que as histórias começavam assim… era uma vez!

Que saudades que eu tenho do tempo em que as histórias tinham sempre um final feliz, porque “uma vez”, alguma coisa tinha acontecido, alguma coisa tinha dado início a algo que não era, que começou a ser e que evoluiu até ao tempo que é agora, onde já se pode contar, onde já se pode saber, onde tudo ficou claro, porque aquilo que tinha tido início “uma vez”, chegara ao seu fim, um fim feliz, que cumpria a esperança do prometido e esperado…

Que saudades que eu tenho do tempo em que as histórias tinham sempre um fim feliz!

O tempo que é hoje, é um tempo de histórias que começaram quando “era uma vez”, mas que parece não terem fim; e estão por todo o lado... na política, no desporto, nas finanças e “financices” várias, nas pulhices e trafulhices variegadas que aparecem como cogumelos em todos os setores da sociedade, mas que se arrastam até à exaustão, até à prescrição, até ao esgotamento sobretudo da pachorra de viver num mundo gerido por inimputáveis em corrida desenfreada em direcção à clareira…, que “não sabiam”, que “não se lembram”, que “afinal não foi bem assim”; um mundo feito de “filhos de senhoras solteiras” que morrem assim mesmo, celibatárias, recauchutadas e a gritar que as “galdérias” são as outras...

Tenho muito respeito pelas galdérias assumidas; não tenho é paciência para “virgens recauchutadas”, da política, do desporto, da religião, da economia, das artes várias, aguçadas pelo engenho e pela cobiça, como diria Camões: “Desta vaidade a quem chamamos fama, do fraudulento gosto que se atiça, c’uma aura popular, que honra se chama! De repente ouve-se esta voz do velho, desse Restelo que é o chão da pátria.

Não, não moro no Restelo. Não tenho nada contra quem lá vive... mas moro na pátria, moro no tempo e no meu tempo, neste tempo de gente que grita no vozear e no tropel do “incêndio”. A este ainda ninguém o viu...

Para já estamos entretidos com as novelas e os novelos que desenrolamos de manhã à noite, e com as noites animadas com os “futebóis”, as “casas dos segredos”... não as do Restelo, mas as de S. Bento, as de Belém, sem reis mas com magos, que por estes dias se digladiam dois a dois em episódios no horário nobre.

Oxalá, Insh’Allah, a sério, sem sarcasmo, oxalá 2022 que agora começa seja um ano sem incêndio e sem incêndios, um verdadeiro ano de magia, que este ano os reis magos não venham, ou então, se vierem, tragam só o ouro. Já temos as narinas saciadas de incensos cultuais e não temos espaço para mais mirra do sofrimento de, mais uma vez, vermos a esperança adiada, na pandemia do nosso descontentamento…

Entretanto, se o incêndio vier, peço a Deus a coragem de ser colibri!

Para todos, um feliz 2022!

fonte: mural de Fernando Ventura 

sábado, 4 de setembro de 2021

Uma leitura (im)provável do nome de Deus


A proposta de “tradução” que aqui trazemos tem a tendenciosidade inerente a quem busca traduzir o intraduzível, “numa língua” que as pessoas entendam... Esta é uma tarefa que atravessa os tempos e que continua a ser uma tarefa ineludível e irrecusável, porque o Pentecostes se prolonga no tempo intemporal.


Esta tarefa torna-se tanto mais irrecusável quanto vivemos num tempo solteiro de afectos e viúvo de emoções, que vive a nível relacional essencialmente uma dimensão de utilitarismo.

 

Terminada a utilidade, termina a relação qual “pastilha elástica” miseravelmente cuspida no chão onde vagabundeia a nossa indiferença, indigentemente espezinhada quem sabe até pelos pés dos que continuam a passar a correr pela estrada de Jericó a caminho do Templo.


Outros tempos, outras culturas e outras civilizações inventaram, criaram e aperfeiçoaram formas de matar e mataram...! O nosso tempo, a nossa “cultura” e a nossa “civilização”, ou a falta dela, conseguiram matar o que nenhuma outra tinha sido capaz de matar. Nós, matámos as palavras! E porque matámos as palavras, matámos os afectos e porque matámos os afectos, suicidámo-nos!


De repente, deixou de ser possível “fazer amor”, porque quando nos demos conta, esta era já uma das palavras mais assassinadas... e ficámos sem saber o que fazer. Daqui, a partir daqui, tudo se complicou, tudo “nos complicámos”. E sobrámos nós, sozinhos, com afectos mortos, com solidões à espera de redenção.


E aqui estamos nós, convidados, desafiados, e incentivados pelo próprio Deus a perceber a nossa missão, a única que nos toca realmente levar a cabo! Ressuscitar as palavras mortas, os afectos mortos! Um dia perceberemos que este é o tempo de nos entendermos como agentes de transformação da História. 


A nós, a todos nós, cabe-nos a tarefa de “fazer amor com toda a gente, todos os dias, e sem preservativos!”


 Pois é, isso mesmo, assim na crueza das palavras mortas à espera de ressurreição, à espera da ressurreição do amor, à espera de gente que deixe de viver “preservada” dentro dos penachos e preconceitos que toldam o entendimento, a capacidade de “ver”, a tal capacidade de “ver como se víssemos o invisível”, a própria capacidade de “ver a Deus”, porque não vemos o outro, porque começámos por não nos vermos a nós mesmos, escondidos numa castidade bacoca que nunca será capaz de, “serenamente” entender o corpo com o “lugar” por onde passam também os enlevos da alma... mais um ou dois milénios e lá chegaremos...  


Mas Ele ali está, onde sempre esteve, no Horeb dos nossos medos e dos nossos desafios, nas rugas da montanha a conquistar, nos socalcos da vida a percorrer desafiada a deixar-se “incomodar” pelo que não conhece... porque é Ele está ali na sarça que arde mas não se queima, na realidade que escapa aos meus sentidos mas da qual não fujo, tal como Moisés não fugiu, mas vou à procura, à procura do sentido, à procura do sentido do(s) meu(s) sem sentido(s)... até encontrar Deus... até encontrar Aquele que me diz que É para que Eu seja.


E Ele ali está, e Ele ali me responde אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה. “Eu sou aquele que é sendo!” “Eu sou aquele que é sendo contigo!” “Preciso de ti para ser!”


Heresia! Gritarão os puristas. Como é que Deus se pode atrever a uma coisa destas?


Mas pode! Pode e deve. E diz. Vamos ver.


Na confusão da loquacidade com que nos vamos desentendendo, confundimos facilmente dois conceitos que não dominamos: gostar e amar. Quando percebermos a diferença, teremos entendido tudo, ou pelo menos, muita coisa...


Quando eu digo a alguém: “Eu gosto de ti”, estou a dizer “Eu preciso de ti para ser feliz”. Mas quando digo a alguém: “Eu amo-te”, estou a dizer “Eu não posso ser feliz sem ti”. 


Aqui muda tudo. Aqui, acima de tudo mudo eu, na minha relação de intimidade comigo e com o outro, na minha relação de “ser sendo” e “sendo com”, na medida em que empurra o meu “eu” sozinho e solitário, para o “nós”, de uma relação que a dois se vive, se constrói e se celebra.


Voltemos à “heresia” de Deus. Diante daquele Moisés espantado mas corajoso, que vai à procura dos seus “comos” e dos seus “porquês”, Deus revela-se, Deus “diz” o Seu nome.


E diz de si próprio a essência do seu próprio ser: Porque Ele é, para que Eu seja e para que eu “seja sendo”, porque a relação com Ele só existe na medida em que, e se existir uma relação com o “outro” e com os “outros”. 


Em última análise Deus diz a Moisés, Deus diz a cada um de nós, “eu amo-te”. Isso mesmo! Não posso ser sem ti!


Está aqui a heresia. Deus precisa de mim para ser! Escandalizado? Espero que sim.


Que falta que faz este escândalo. Que falta que faz perceber até e sobretudo a partir da nossa experiência humana que Eu não “sou” para alguém que não me “conhece”, que alguém que eu não “conheço” não existe para mim.


Preciso de ti para ser. Preciso de ti para ser contigo.


Frei Fernando Ventura

sexta-feira, 26 de março de 2021

Também há os que "por obras valorosas, se vão da lei da morte libertando"


Os outros, esses que "por obras asquerosas se vão à lei da morte condenando", esses que por todo o mundo enchem os bandulhos de petróleo, de diamantes de sangue e de sangue inocente, esses que compram a pátria dos outros a preço de saldo, os vampiros do tempo novo e dos novos tempos, - uma espécie zoológica que habita todos os continentes -, são os novos senhores do medo que graças à hipocrisia do "politicamente correcto" e do "economicamente inevitável" são presenteados com "vistos dourados".

Aqueles lutam pela dignidade que foi roubada, estes, nem sequer lutam com a própria consciência, simplesmente porque a não têm, simplesmente porque também a venderam... a preço de ouro, com que enchem os bandulhos, com o que falta no prato dos pobres.