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Muitas pessoas passam a vida construindo a si mesmas.
De fora.
Como quem constrói um monumento ou esculpe uma estátua.
No começo são muitos ideais.
Tudo que há de melhor vai para o monumento.
Também o sofrimento da renúncia,
a dor de nem sempre encontrar o melhor material,
o peso da descrença ou do escárnio dos outros.
Depois começa a crescer a admiração.
A auto-admiração.
Isso, quando se consegue escapar da frustração.
Muitas vezes, a vida acaba antes da festa da cumeeira.
Se o monumento chegar a ficar acabado,
ou pelo menos utilizável,
não se pense que sobrevenha o gozo nem o sossego.
Não.
Aí vem o pior. Aí vem o medo
de que alguém derrube a casa ou de que a estátua se desfaça.
E todo o resto da vida é defesa e preocupação.
Com o acréscimo de uma dúvida escondida mas incômoda:
Será que mais alguém acredita nessa obra de arte?
Os pobres do Reino não fazem estátuas
nem constroem monumentos.
Vivem.
Vivem o dom gratuito das outras pessoas
e mesmo das outras coisas.
Não utilizam nada como material de seu próprio eu
nem como servidores, operários ou admiradores seus.
É vivendo, simplesmente vivendo,
que construímos uma vida para sempre.
Texto do livro "Dona Pobreza", de frei José Carlos Pedroso, Vozes, 1981.
in http://seguirjesus.ning.com/forum/topics/a-estatua?xg_source=activity
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