Certa manhã acordei sozinho em casa. Acordei a chorar.
- Ó mãe, mãe...
Mas a mãe não vinha. Não havia mãe. Havia só porta fechada,
- Ó mãe, mãe...
E a casa deserta. Pelas frinchas largas da porta via a manhã lá fora.
Era uma manhã de sol quente talvez de Julho, talvez de Agosto.
Devia haver medas de palha na eira em frente.
Mas os meus olhos mal viam, estavam rasos de água e de angústia.
- Ó mãe, mãe...
E de repente, na manhã clara, começaram a cair estrelas pequeninas,
estrelas verdes, vermelhas, estrelas de oiro.
As lágrimas caíam-me pela cara.
- Ó mãe, mãe...
O nariz esmagado contra a porta, os olhos muito abertos,
vendo através das frinchas as estrelas caindo, umas atrás das outras.
- Ó mãe, mãe...
E ninguém me abriu a porta para apanhar as estrelas.
Nem mesmo tu, mãe, que a essas horas andavas a ganhar o pão
para a boca daquele que hoje te oferece estes versos.
In “Os Amantes sem Dinheiro”
via Emília Roque
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