75 Anos com Deus: a Jornada do Padre Tobias
Há homens que são como as árvores antigas: fincados na terra com raízes profundas, não apenas no chão, mas na alma de um povo. Padre Tobias Álvares da Silva é desses. Há setenta e cinco anos que é sacerdote, e outros tantos a ser o coração que pulsa em Pedralva, freguesia que o conhece mais do que as suas próprias pedras. Nascido a 6 de agosto de 1926, em Vermil, no concelho de Guimarães.
O Padre Tobias tornou-se, ao longo das décadas, um fio de luz constante, discreto e firme. Levanta-se antes do mundo acordar. Um caldo simples sustenta-lhe o corpo, mas é na oração que se alimenta a alma. Às 05h30, a igreja espera-o em silêncio. A pedra fria e o escuro da madrugada envolvem-no como um manto, e às 06h30, a Eucaristia acende o dia. Pouca luz, apenas um candeeiro a repousar sobre o ambão, e é dele que se faz lume — sobre as letras sagradas que conduzem à Palavra da Salvação. E ali, naquela penumbra santa, o Verbo torna-se carne de novo, e o velho sacerdote, curvado pelos anos mas erguido pela fé, faz do altar um reencontro com o eterno.
Depois, desce à cidade, como quem desce ao mundo. Vai ao Café Brasileira, esse pequeno palco onde observa a cidade a nascer, folha a folha, nas páginas do Diário do Minho. Mastiga palavras, cumprimenta os rostos como quem beija a história de cada um. O Padre Tobias conhece as ruas como conhece as Escrituras: com reverência e familiaridade. E se o tempo deixar, visita um colega doente, um amigo que o tempo escondeu, mas que a amizade nunca deixou morrer.
Durante o dia, vê gente. Conversa. Escuta mais do que fala. Fala mais com o olhar do que com a boca. E quando o sol começa a render-se à noite, ele volta a palrar com o bom Deus — esse Amigo de sempre que nunca lhe falhou.
Pedralva é o Padre Tobias e o Padre Tobias é Pedralva. São inseparáveis como o tronco e o solo que o sustenta. Conhece cada batismo celebrado, cada primeira comunhão partilhada, cada crisma preparado com zelo. Foi testemunha de casamentos, abençoou filhos e depois netos, e carregou no peito o peso terno dos funerais. Viveu com os seus. Sofreu com eles. Riu e chorou ao seu lado. Não há muitos como ele — um homem que nunca quis ser mais do que alguém que conhece as suas ovelhas pelo nome, que vive no meio do rebanho, que se faz próximo sem invadir, que escuta sem julgar.
Porque ser padre, para Tobias, não é ter um título, é ser presença. É calçar as mesmas ruas, carregar os mesmos lutos, celebrar as mesmas alegrias. É conhecer as histórias, mesmo as que não se contam. É viver com, e não apenas para.
E por isso, quando alguém diz “o nosso padre”, não é só um costume — é verdade profunda. É pertença. É amor antigo. É Tobias, o pastor de almas, que nunca deixou de ser homem. E por isso, tornou-se mais do que isso: tornou-se memória, pilar, esperança.
Setenta e cinco anos de sacerdócio não se contam em datas. Contam-se em batimentos. No compasso sagrado entre o altar e a praça, entre a missa e o café, entre a fé e o mundo. E ali, nesse lugar onde céu e chão se tocam, vive — com humildade e grandeza — o Padre Tobias.