Morreu o Papa Francisco.
E no entanto, parece que nasceu agora —
no silêncio que deixou, na saudade que acendeu, na esperança que semeou.
Partiu o homem que nos ensinou que Deus se encontra na simplicidade,
no toque de uma mão gasta, no cheiro a sopa servida a quem tem fome,
no abraço que atravessa o dogma.
Francisco não quis ser príncipe, quis ser servo.
Desceu do trono, tirou a púrpura, calçou sapatos velhos
e pôs-se a caminho — com os outros, para os outros, entre os outros.
Recusou a grandeza, escolheu a simplicidade.
Trocou os aposentos dourados pelo tecto modesto partilhado com trabalhadores.
Trocou a cruz de ouro por uma de ferro.
Trocou o poder pela proximidade.
Obrigado, Francisco,
por nos mostrares que a santidade é feita de gestos concretos.
Por confessares os teus pecados diante dos fiéis.
Por instalares chuveiros para os sem-abrigo na Praça de São Pedro.
Por dares um palácio a quem nada tem.
Por chorares os mortos de Lampedusa,
por beijares os pés de inimigos,
por gritares que a guerra é sempre derrota,
por chorarmos contigo os mortos de todas as guerras...
Por não encobrires escândalos.
Por quereres ouvir os esquecidos.
Por deixares entrar os recasados.
Por defenderes a Casa Comum, e os que vivem com tão pouco.
Rezaste sozinho à chuva, e todos nos sentimos menos sós.
Lavaste os pés aos esquecidos, e lavaste também o rosto endurecido da Igreja.
Foste humano até ao fim — e por isso, tão divino.
Hoje, do Céu, sorrirás com a ternura dos justos.
E quem crê no Deus da Vida saberá:
a tua morte não é um fim, mas o sopro manso de quem volta ao coração de Deus.
Papa Francisco… gosto tanto de ti.
Com a tua vida, ensinaste-me a amar Jesus com outro encanto.
Obrigado. Por tudo o que fizeste.
Mas mais ainda… por tudo o que foste.