AGAM RINJANI: DESCEU AO ABISMO COM ALMA ACESA PARA RESGATAR O CORPO DE JULIANA
Por João Guató
Na encosta íngreme do Monte Rinjani, onde o céu se encosta no ombro da terra e as nuvens conversam em silêncio com os deuses antigos, um homem desceu. Não era militar, não era herói de farda nem mártir por profissão. Era Agam. Apenas Agam. Com o nome curto e a alma imensa.
Não havia holofotes nem manchetes. Havia o eco do vento e uma promessa muda que alguém precisava cumprir. Lá em cima, a trilha se tornava desespero. Juliana, uma brasileira de 26 anos, havia caído no ventre da montanha. E quando os oficiais desistiram, quando a noite e o medo se levantaram como muralhas, Agam não recuou.
Desceu. Com as mãos, com o corpo, com a coragem descalça. Desceu por entre pedras afiadas, vertigens e precipícios. Não para salvar a vida — que já havia partido —, mas para salvar a dignidade da morte. Para que uma filha pudesse voltar para os braços de sua mãe. Para que o último gesto não fosse abandono, mas acolhimento.
Ali, ao lado do corpo inerte de Juliana, Agam passou a noite. A madrugada o envolveu com frio, solidão e o silêncio mineral dos que guardam os que partem. Ele a velou, como um irmão do mundo. Como quem compreende que compaixão não se ensina — se vive.
E ao amanhecer, ele subiu de volta. Exausto, mas inteiro. Conduzindo, como se leva uma estrela de volta ao céu, o corpo daquela que sonhava com paisagens e terminou virando lembrança.
Agam, homem simples, tornou-se símbolo. Não pediu nada. Não gritou vitória. Apenas fez o que achou certo — como fazem os que carregam o bem no peito e o mundo nas costas. Como fazem os que sabem que a vida é ponte, e não palco.
No Brasil, milhares o reconheceram. Em cada post, um obrigado. Em cada comentário, um abraço. E ainda assim, ele continua sendo Agam. Apenas Agam.
Mas nós sabemos: há nomes que, quando sussurrados pelo vento, viram poema.
E há gestos que, mesmo sem câmera, iluminam o planeta.
Obrigado, Agam.
Em teu silêncio, gritamos humanidade.
fonte: João Guató