A pérola do instante tem sido o que perceberam grandes figuras a que recorremos para aprender e sentir um pouco como elas. Posso lembrar-me de São Paulo; da pintura de Jules Lefebvre (1836-1911), onde se vê Maria Madalena extasiada; dos vários momentos místicos das Santas Teresas; de Thomas Merton e da multidão enorme de gente que fez e faz do instante o tesouro fundamental da existência.
O acaso, é completamente imprevisível, porque simplesmente acontece, não está sujeito à previsão nem muito menos a planeamento. Acontece e pronto.
Numa rua de uma qualquer cidade, veio ao encontro de Albert Dante uma figura de mulher vestida de negro dos pés à cabeça. Aparentava ter já alguma idade acima dos 50 anos. Nada que perturbasse o pensamento e fascínio quando desperta das profundezas do coração – este motor do mistério que sempre encontra razões que nenhuma razão compreende e muito menos explica.
Albert Dante contemplou todo aquele negro intrigante e deduziu logo ser uma viúva recente, que ainda mostrava quanto teria sido profunda a ferida da perda e como não esconde com o negro o vazio do chão que pisa.
O seu olhar foi cerce à única parte do corpo descoberta, o rosto da mulher. Sem dizer nada como se mergulhasse na imensidão e profundidade do oceano, fixou-se nos olhos e naquele instante em que se cruzaram, cada um no seu passo decidido, mas bastou a Albert sentir o fervor da paixão.
Aquele instante resume-se a isto tão singelamente, Albert Dante encontrou a mulher de luto e pouco depois perdeu-a de vista para sempre. Nunca mais verá aquela mulher. Mas não foram esses trâmites fora do instante que o impediram de ficar apaixonado pela viúva para sempre.
Este momento serviu para Albert Dante reflectir deste modo: há ocasiões que são apenas instantes. O amor não exige prazos, nem curtos nem longos, bastam os instantes. Daí que pode ser suficiente que um desconhecido naquele instante faça muito mais pela salvação e descoberta da riqueza interior de cada um, do que outros a quem o destino traçou para estarem presencialmente todos os dias.
O nosso caminho está cheio de surpresas, bastará olharmos o que se passa, devolvermos o olhar sem hesitação e descobrirmos o sentido mais profundo da vida com paixão.
Apaixone-se definitivamente pelo seu sonho... O sonho de ninguém deve ser maior que o seu.
Apaixone-se pelo seu talento.
Apaixone-se mais pela viagem, do que pela chegada ao destino.
Desapaixone-se de seus medos, eles minam sua alegria de viver.
Apaixone-se pelas suas memórias mais deliciosas, ninguém pode tirá-las de dentro de você. Apaixone-se por aquele riso gostoso. Apaixone-se por alguém...
Apaixone-se pelo seu projecto de vida, acredite.
Apaixone-se pela dança da vida, que está sempre em movimento. Apaixone-se pela ideia de ser verdadeiramente feliz.
Apaixone-se pela música que você pode ser para alguém...
+++ seealsohttp://crislainemeireles.blogspot.com/ +++ parte final do filme: Para Além do Horizonte/WhatDreamsMay Come Realizado por VincentWard EUA, 1998 inhttp://www.cinedie.com/what_dreams_may_come.htm Chris (Williams) e a mulher Annie (Sciorra) têm que lidar com os mais profundos dramas familiares. Uma desgraça nunca vêm só, num filme em que o ponto de partida não é o que vai suceder aos personagens, mas como resolverão os seus problemas depois do pior que lhes podia suceder ter sucedido. Pode não fazer sentido, mas trata-se de um passeio pelo Além. Williams é ajudado por alguns guias celestiais, que lhe dão as indicações necessárias para ir ao Inferno e voltar. Este filme de VicentWard passa-se, na sua quase totalidade, no mundo dos mortos, em cenários irreais, levados à tela por efeitos especiais que não são meras execuções técnicas, mas verdadeira "arte". Os cenários são de uma beleza quase sublime, à medida que Robin Williams vai saltando pelos mundos de sonho de diversas pessoas que conheceu em vida. O seu próprio "mundo" é baseado nas pinturas da esposa, levando-se ao extremo o conceito de "sentir a arte" (mais propriamente atolar-se nela até aos joelhos). «WhatDreamsMay Come» é, sem sombras de dúvida, um filme visualmente belo, com imagens que permanecem na retina do espectador, o qual preferirá percorrer os diversos quadros com o olhar a seguir a história dramática do romance postmortem, e da aceitação da natureza das coisas (mortas) por parte do personagem central. A irrealidade latente é necessariamente inversamente proporcional ao nosso interesse pelo destino dos personagens, e requerer-se-ia algo mais para nos agarrar a uma história em que o ponto de partida é a morte. Normalmente, preocupamo-nos com a morte de alguém no decurso ou no final do filme. Uma boa tragédia pincela morosamente os personagens e depois traz-lhes todas as desgraças possíveis, maxime a morte, mas a tortura física prolongada também não costuma ficar mal. Aqui, como é óbvio, não há esse receio. Williams e Sciorra surgem a sofrer desalmadamente, e quando o cenário muda o sofrimento prossegue, infindável, não se misturando as imagens bonitas com os cenários mais terrenos ou negros onde o drama tem a sua génese. +++
Todos os seres animados são-me mais preciosos
Que o Chintamani que cumpre todos os votos:
Com o pensamento de realizar o seu bem supremo,
Possa eu constantemente conhecer o seu valor.
Possa eu, em qualquer companhia,
Ver-me como o mais pequeno
E prezar o meu próximo
Pela sua supremacia!
Em todo o acto observarei o meu espírito.
Surgindo aí a mínima paixão,
Causa de todos os nossos tormentos,
Afrontá-la-ei e evitá-la-ei firmemente.
Quando vir um ser malévolo
Esmagado sobre os males que inflige e sofre,
Possa eu amá-lo então, este ser que se encontra
Tão raramente como um tesouro!
Vítima do ciúme,
Alvo de injúria e de desprezo,
Que a derrota me aconteça:
Deixo a vitória a outrem!
Ó tu que ajudei,
Em quem pus todas as minhas esperanças,
Injustamente te voltas contra mim:
Ter-te-ei pelo meu mestre sublime
Possa eu, directa e indirectamente,
Vos ceder, mães queridas, toda a felicidade e todo o bem,
E secretamente tomar sobre mim
Os vossos males e todos os vossos sofrimentos.
Que nisto não me altere a mancha
Conceptual das oito mundanidades:
Quando reconhecermos que tudo é ilusório,
O puro desapego desatará todos os nossos laços. por Langri Thangpa fonte: O Caminho para a Serenidade Dalai Lama - Organização de Renuka Singh