Olho para o diário de Etty Hillesum e não consigo fugir da verdade crua que ela escreveu:
“Quero ajudar-te, Deus, a que não me abandones, mas eu não me posso responsabilizar por nada. Apenas uma coisa se me torna cada vez mais clara: que tu não nos podes ajudar, mas que nós devemos ajudar-te, e nisso ajudamo-nos a nós mesmos. É a única coisa de que se trata: salvar um pedaço de ti, Deus, em nós. ... Não te peço nenhuma justificação... torna-se cada vez mais claro, que não nos podes ajudar, mas que nós temos que ajudar-te e temos de defender até ao fim a tua habitação em nós.”
Mas continuamos a empurrar-lhe a culpa.
É mais fácil culpar o Céu do que enfrentar o espelho.
Deus não tem culpa do teu casamento falhado, quando tu próprio ignoraste os sinais durante o namoro.
Deus não é responsável pela tua solidão, quando te contentas com o que te diminui por medo de estar só.
Deus não te prende à pobreza, quando não sabes gerir o pouco que tens.
Deus não afasta os teus filhos, quando foste tu que nunca os soubeste escutar.
Fomos nós.
Somos nós.
Com escolhas mal feitas, amores mal curados, decisões empurradas com a barriga e responsabilidades sempre adiadas.
Deus não é culpado da tua oração vazia, da tua fé fraca, da tua vida desordenada.
Deus não controla os teus impulsos, não te obriga a amar, não te força a recomeçar.
Deu-te liberdade.
Deu-te inteligência.
Deu-te um coração. E deixou-te caminhar.
Preferimos um Deus à medida dos nossos caprichos: que resolva, que limpe, que perdoe, que substitua o esforço que não queremos ter.
Mas Deus não é nosso criado.
É Pai.
E um Pai educa, espera, confia, e deixa-nos aprender — mesmo que doa.
O mundo arde em guerras, injustiças e abandono.
Mas a pergunta não é: “Onde está Deus?”
A pergunta é: “Onde estamos nós?”
A fé verdadeira não é uma desculpa, é um compromisso.
E Deus…
Deus nunca fugiu.
Talvez sejas tu que precisas de voltar.
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