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sexta-feira, 23 de maio de 2025

Papa Leão XIV

 



POSTAL DO DIA 


Francisco ajudou o Espírito Santo na escolha de Robert Francis


1.

Faz hoje 15 dias que o mundo conheceu o novo Papa. 


Esperei 15 dias para te trazer Robert Francis, americano de Chicago, 69 anos, da Ordem de Santo Agostinho. 


Esperei duas semanas para te dizer com segurança que este homem sacrificou a sua vida por ter acreditado que Jesus estava no seu caminho. 


Um dia, quando estudava para padre perguntaram-lhe que sacerdote gostaria de ser. 


E o jovem Robert Francis, bonito e convicto, respondeu que tinha a ambição de ser um padre capaz de abdicar de toda a matéria, de todas as roupas caras, de todos os perfumes, de tudo o que o afastasse do homem que resolveu seguir. 


2.

Repara, isto não são palavras. 

Coisas que se dizem.  

Paliativos contra as certezas de alguns que logo vieram ao pátio do mundo jurar que Trump mandava no Vaticano ou que a eleição traíra os ideais de Francisco. 


Robert Francis não é um padre qualquer. 

É alguém que cumpriu o que um dia prometeu no seminário. 


Sacrificou-se pelos mais pobres. 

Sacrificou a sua condição burguesa, a sua tranquilidade e conforto, para viver no Peru numa cidade a 800 quilómetros de Lima, a capital. 


3.

Amparou trabalhadores explorados na apanha da cana de açúcar.  

Dormiu em barracos de gente sem água canalizada. 

Protegeu mulheres violentadas, arregimentou vontades para que casas de tijolo fossem construídas, para que escolas tivessem professores, para que às mães não faltasse leite, para que aos homens não faltasse trabalho. 


Os peruanos de Chiclayo faziam fila para ouvir uma sua palavra, para receber a hóstia e o seu sorriso, a sua esperança, o seu exemplo. 


No Natal levavam-lhe cabrito e o pato que durava para o resto do Inverno. 


Na Primavera levavam-lhe as crianças para ele as abençoar. 


E todas as semanas Robert Francis comia em casa de algum pobre, de alguém que o sentava como se fosse família, de alguém que comia dos seus pratos gastos, da sua comida humilde, da sua pinguinha caseira. 


4.

Passaram 15 dias e já vos posso dizer que Leão XIV é precisamente este padre. 


Um homem distinto que fez voto de pobreza e se dedicou ao fim do mundo, aos que nasceram sem acesso às frutas suculentas do Éden. 


Por isso, houve felicidade em Chiclayo. 

Por isso, as pessoas saíram à rua com tachos e panelas. 

Por isso, ouviram-se gritos e viram-se lágrimas entre os índios peruanos, entre os trabalhadores cansados da cana de açúcar, entre as mulheres com filhos ao colo. 


Até entre os presos houve quem batesse nas grades. 


Por isso, não admira que tenha dito, fez hoje 15 dias, que a Igreja pode trazer luz às noites escuras e deve ser julgada pela santidade dos membros e não pela grandeza dos edifícios. 


Nada de mais certeiro.


LO


fonte: mural de Luís Osório 




quarta-feira, 9 de agosto de 2023

O inferno de Judite de Sousa

Estou agora a ver a entrevista na SIC, que a Júlia Pinheiro deu à Judite de Sousa (Janeiro de 2023), e no meio de uma enorme dor e incómodo, daqui lhe envio um grande abraço com os meus parabéns pelo livro que publicou: Pedaços de VIDA. 🙏 Que Deus a abençoe e lhe dê a Luz para continuar com Esperança e entender que a VIDA não é só isto…! Muita força!!!❤️💚💙

Um pedido adicional: 

Que todos os haters se calem, por favor!!! Quem diz mal, quem calunia, quem agride, que se cale por favor!!! Respeitem os outros, pois as vossas “palavras” podem ser autênticas facadas em corações já muito fragilizados!!!

fonte: facebook Manuel Filipe Santos 

O meu abraço materializou-se neste vídeo, com texto de Luís Osório






segunda-feira, 26 de junho de 2023

Um novo 25 de Abril…

POSTAL DO DIA 


Um novo 25 de Abril derrubará o 25 de Abril


1.

Precisamos do que não temos e raramente nos basta o que damos por garantido. É um lugar comum, dos mais óbvios – se formamos uma família perdemos a paixão por entre as curvas; se vivemos apaixonados sentimos uma sede de família que nos obriga a parar na primeira fonte. 


A vida é feita disto. 


Das rotinas de que depende uma relação com filhos, árvores de Natal e cabrito ao domingo; da quebra de rotinas de que precisam os apaixonados. 


Dois mundos inconciliáveis e sempre presentes no que fomos: nesta batalha, o exército ruidoso, que nos provoca dores de barriga e enxaquecas, é formado pelo que nos falta. Mais tarde ou mais cedo dá de si e nada podemos fazer para o evitar. 


2.

Ao mesmo tempo, cada fase que vivemos, cada passo, sabe ao irrepetível – o golo da infância, a entrega dos testes no liceu, o primeiro dia no primeiro emprego, a descoberta de um poeta na juventude, de uma utopia, de um amor impossível, o dia em que nos despimos a alguém. 


Quando repetimos o irrepetível, quando o tentamos, sabe-nos a fruta passada, uma embalagem fora do prazo. Mas há dias em que penso: que estupidez de pensamento. Que estupidez pensar em impossíveis no jogo de todos os possíveis, o que jogamos desde que nascemos. 


Um dia voltarei a embaciar os vidros do carro. Um dia voltarei a fazer as coisas que já fiz como se fosse a primeira vez que as faço. Um dia serei dono de uma utopia e voltarei a celebrar um golo ajoelhado e fora de mim. E um dia chegarei à conclusão de que existe um tempo para tudo, que quem prova o absoluto, o que é verdadeiramente absoluto, sabe que o caminho a partir dali é sempre a descer. 


3.

Pedem-me pelo meu 25 de Abril. 


Mas o que sei do 25 de Abril é o que sei da juventude dos meus pais. É da fotografia da minha mãe, mesmo em frente ao lugar onde escrevo, tão bonita que era, olhos vivos, sorriso largo, uma fome de mundo e liberdade fosse isso o que fosse. O meu 25 de Abril não é feito de cravos, mas de promessas de uma paixão proibida. Recordo-a como se fosse hoje, de mão na minha mão, a contar-me o quanto gostou do meu pai, o quanto o amou em Paris durante o seu “exílio”. 


O meu 25 de Abril é a avô Alice e o piano onde a família escondia os livros proibidos antes das visitas noturnas da PIDE, são as tias Cristina e Teresa a contarem das reuniões gerais de alunos na Faculdade de Letras ou na maneira como, com a revolução na rua, saíram de casa para construir uma vida com pressupostos inimagináveis. É um tio contar-me das filas intermináveis para ver a Garganta Funda ou de uma noite em que assisti a uma sessão do Homem que Matou Liberty Valence seguida de um debate sobre a liberdade de imprensa. Encontrei o meu 25 de Abril quando no final da década de 1970, um diretor de escola primária entrou na sala de aula e proibiu a velha professora de partir a régua nas nossas mãos. Fomos para o recreio e eu, politizado dos desenhos animados de Vasco Granja, desenhei um bigode revolucionário e cantei o “Se uma Gaivota Voasse”. 


4.

O meu 25 de Abril não é mais do que isto. É a memória dos Capitães de Abril em jovens. A viverem a sua revolução sem que antes tenham dito uma única palavra. 


Lembro-me deles em jovens, da idade de Salgueiro Maia, mais novos do que eu sou agora, a caminharem para os seus objetivos e dispostos a morrer pelo ideal de pôr fim à guerra colonial e à ditadura. O resto não me interessa. 


Porque como escrevi numa crónica por estes dias, os heróis que estiveram na primeira linha puderam viver o Absoluto (que é uma forma de alucinação benigna) e depois dessa ideia de Felicidade que se julga para sempre, veio o choque com a realidade que atropela, deforma e relativiza. 


O meu 25 de Abril é uma homenagem à memória. A esse fio de horizonte, feito sem palavras, que nos faz ser o que somos. 


Que nos faz ser portugueses. 


Arrogantes na ditadura da dúvida permanente. Orgulhosos e temerosos. Umas vezes tudo, outras nada. Temos o Sol, mas inventámos o fado. Falamos de medo, mas partimos à conquista do mundo. Temos inveja e somos generosos. Somos uma coisa e o seu contrário. Gostamos de dar voltas no mesmo sítio como se farejássemos uma cauda imaginária. 


5.

Aguardamos por uma outra revolução. Uma revolução de ideias, tecnológica e civilizacional. Talvez com sangue, suor e lágrimas. Uma revolução que colocará em causa a própria ideia de democracia que, no seu interior, traz as sementes da sua própria destruição, como todos os sistemas humanos antes e depois. 


Que novo 25 de Abril será esse? Que nova globalização poderá nascer? Que respostas poderão ser dadas para respeitar uma ideia de progresso e de liberdade? Questões para os nossos filhos. Serão eles, ou os filhos deles, a colocar fim aos poderes que, como sempre, se julgam eternos. 


Os Capitães de Abril também “morrerão” com essa nova revolução. Porque ao contrário do que pensam são parte do mundo que criticam. Não tem mal nenhum, é o que é. Ainda bem que muitos estão vivos e são testemunhas da história, mas infelizmente a heroicidade não é compatível com o ruído das opiniões e da espuma dos dias. E cada opinião, por mais legítima e respeitável que seja, soa a uma aula de arqueologia sem qualquer ligação à realidade. É como ver os Heróis do Mar ao vivo a cantar o Amor e a Paixão com Pedro Ayres Magalhães a liderar os saltos no palco. Não cola. 


6.

E aconteça o que acontecer, tudo continuará enquanto dormirmos. Ainda esta noite, tudo continuou: promessas de amor para sempre, corpos molhados de desejo, suicidas enforcados ou envenenados com comprimidos, punhais nas vielas, o primeiro “chuto” de alguém que se começou a perder, festas de aniversário, insónias de quem soube que um cancro é seu inquilino ou que a pessoa ao lado tem uma vida dupla. Enquanto durmo, pais perderam os seus filhos. Bebés nasceram de cesarianas, fórceps e partos naturais. Homens e mulheres estenderam as suas mãos e pediram pela primeira vez. Casas foram assaltadas, apaixonados despiram-se em luas-de-mel, sonhadores não pregaram olho, dementes fizeram telefonemas anónimos, doentes e feridos entraram nas urgências, outros entraram na lista dos que enlouqueceram. Enquanto dormi esta noite tudo isso aconteceu. E tudo o resto. Tudo o resto que aqui não cabe. Uma ideia de liberdade também. De futuro.     


LO

Postal do dia de Luís Osório 


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Salman Rushdie (Postal do Dia por Luís Osório)

 
Postal do Dia (Luís Osório)

Não deixa de ser curioso
ter alcançado os 666 subscritores
exactamente com a publicação deste vídeo...👀
Mais informação (SIC Notícias)


Desistir não faz parte do vocabulário de Salman Rushdie. O escritor diz que escreve mais devagar, mas chega lá, na primeira entrevista desde o ataque de agosto passado que o deixou cego do olho direito e sem mobilidade na mão esquerda - depois de um mês e meio internado.

O homem que o esfaqueou durante uma palestra em Nova Iorque e que disse ver o autor como alguém que atacou o islão, está preso à espera de julgamento, acusado de agressão e tentativa de homicidio em segundo grau.

fonte: SIC Notícias


terça-feira, 31 de maio de 2022

Emplastro

Na visita do Papa a Fátima (2023.08.05)

 
POSTAL DO DIA 
O “Emplastro” tem nome e é um ser humano

1.
Vimo-lo há uns dias a festejar mais um título do FC. Porto, mas também o poderíamos ter visto na Procissão das Velas, em Fátima ou na Queima das Fitas.  

Poucos portugueses não conhecerão o “Emplastro”. 
Mas poucos serão aqueles que conhecem o Fernando Jorge. 

Sobre o que aparece atrás das câmaras nos mais variados acontecimentos desportivos e culturais, 
ninguém tem dúvidas de quem se trata. 

Rimos, abanamos a cabeça, questionamos um pormenor ou outro, antecipamos onde estará a seguir. 

O “Emplastro” não tem mistérios. 

2.
Mas do Fernando Jorge muito pouco ou nada sabemos.  

Nasceu no dia 25 de Abril. 

E logo se viu que talvez não viesse a ser como as outras crianças. 
No dia em que completou três anos, aconteceu o mesmo num outro 25 de Abril. 
Também logo se viu que aquele dia não seria igual aos outros dias. 

Nasceu numa família demasiadamente pobre da Praia da Madalena, no Porto. 

Ficou muito cedo órfão, mas uma avó conseguiu durante alguns anos ser o seu bocadinho de rede, o seu bocadinho de chão. 

Foi trabalhar com pouco mais de dez anos para uma fábrica onde era valorizada a sua força de braços pouco ou nada normal para uma criança. Os seus bracitos levantavam máquinas como se tivesse o poder de carrego de um homem. 

E o Fernando, a quem chamavam “Pintas” por causa de um sinal de nascença,
era mais do que criança – ele era uma criança eterna. 

Ingénuo. 
Generoso. 
Amigo. 

O Fernando entregava o dinheiro à avó – o dinheiro da fábrica e das esmolas que pedia todos os fins de tarde na Igreja dos Congregados, na Praça de Almeida Garrett, no centro do Porto. 

3.
Estou a escrever este postal para si que julga conhecer o “Emplastro”. 


Quero dizer-lhe que o Fernando nunca aprendeu a ler ou a escrever, mas na CERCI dizia-se que sabia cortar, colar e pintar. 

E sabia também sorrir e entregar-se aos outros sem perceber o modo como os outros o olhavam. 
Nuns casos abraçavam-no sem nada em troca, abraços genuínos de gente boa. Noutros, abraçavam-no para gozar o prato. 

Chegaram a levá-lo para viagens de finalistas em Espanha, chegaram a enchê-lo de moedas para dançasse, para que pousasse para selfies alarves, para que fosse o monstro num circo de aberrações do princípio do século XX. 

O Fernando deixa-se ir. 

Gosta de ser gostado. 
Para ele todos o adoram, gostam de si como ele gostou daquele passarinho que um dia tentou apanhar num poste de alta tensão na estação das Devesas, em Gaia. Muitos dias no hospital, uma queimadura importante na zona lombar e uma pergunta logo que saiu dos cuidados intensivos. 

“E o passarinho?”

4.
Tem página na Wikipédia. 

Costuma dormir nas redondezas do aeroporto Sá Carneiro. 

Uma noite, depois de ter perdido a boleia da claque do FC. Porto que o levaria de regresso ao lugar onde dorme, o Fernando bateu à porta do Posto da GNR de Barcelos para ali poder dormir. 

Foi um fartote, mas ao “Emplastro” não era possível dizer que não. Arranjaram-lhe cobertores para que a cela, por uma vez, fosse usada por uma criança (ainda por cima) eterna. 

5.
O Fernando acredita em Deus. 
Sempre que pode vai a Fátima ou entra nas igrejas onde o ajudam com moedas e conselhos. 

Numa missa da RTP apareceu a ultrapassar toda a gente para tomar a hóstia em primeiro lugar, lembro-me de ter pensado que se Deus existir talvez aquela imagem seja simbólica.

Afinal, o Fernando, nascido num dia 25 de Abril…

… o Fernando Jorge que guarda num saco de plástico papelada que não mostra a ninguém…

… talvez seja até mais do que um ser humano. 

Talvez seja uma criança eterna que existe para mostrar ao mundo o quanto olhamos sem ver, o quanto conhecemos sem saber, o quanto somos insensíveis ao que está para lá da superfície. 

LO

Hamei-te

Nunca é…!