Há um tempo que se escapa…
E há um tempo que, por graça, ainda é nosso.
O que passou, passou com a pressa dos dias que não soubemos saborear.
Mas há este agora — simples, frágil, mas inteiro.
É neste instante que se joga tudo o que importa.
Vivemos muitas vezes como se as pessoas fossem eternas,
Como se os abraços pudessem esperar por dias mais tranquilos,
Como se o amor dito amanhã valesse o mesmo que o amor dito hoje.
Mas o tempo não espera.
E o amor, quando se adia, pesa.
Não porque se perca,
Mas porque se acumula como um nó no peito,
Como um gesto por fazer,
Como uma palavra que ficou por dizer.
Talvez hoje o maior acto de coragem seja este:
Estar. Estar de verdade.
Ouvir sem distracção. Olhar nos olhos.
Acolher o outro com tudo o que traz:
A alegria, a dúvida, a dor escondida.
Porque talvez amanhã já não possamos.
Talvez o outro já não esteja…
Talvez sejamos nós a já não estar.
E o que mais custa, nesses momentos,
Não é o que vivemos —
É o que deixámos por viver.
Ainda vamos a tempo.
Ainda hoje podemos tocar a vida de alguém com um gesto simples:
Uma presença sem pressa.
Uma chamada feita a tempo.
Uma palavra justa.
Um perdão que se dá.
O tempo que ainda temos é dom.
É o lugar onde Deus nos espera.
E talvez seja esse o milagre escondido no quotidiano:
Podermos amar melhor,
Com mais consciência,
Com mais ternura,
Com mais verdade.
Porque um dia, sim…
Um dia não teremos mais tempo.
Mas hoje…
Hoje ainda temos.
via Pe João Torres
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junho de 2013 |