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terça-feira, 15 de julho de 2025

Parabéns Padre Tobias

 


75 Anos com Deus: a Jornada do Padre Tobias


Há homens que são como as árvores antigas: fincados na terra com raízes profundas, não apenas no chão, mas na alma de um povo. Padre Tobias Álvares da Silva é desses. Há setenta e cinco anos que é sacerdote, e outros tantos  a ser o coração que pulsa em Pedralva, freguesia que o conhece mais do que as suas próprias pedras. Nascido a 6 de agosto de 1926, em Vermil, no concelho de Guimarães.


O Padre Tobias tornou-se, ao longo das décadas, um fio de luz constante, discreto e firme. Levanta-se antes do mundo acordar. Um caldo simples sustenta-lhe o corpo, mas é na oração que se alimenta a alma. Às 05h30, a igreja espera-o em silêncio. A pedra fria e o escuro da madrugada envolvem-no como um manto, e às 06h30, a Eucaristia acende o dia. Pouca luz, apenas um candeeiro a repousar sobre o ambão, e é dele que se faz lume — sobre as letras sagradas que conduzem à Palavra da Salvação. E ali, naquela penumbra santa, o Verbo torna-se carne de novo, e o velho sacerdote, curvado pelos anos mas erguido pela fé, faz do altar um reencontro com o eterno.


Depois, desce à cidade, como quem desce ao mundo. Vai ao Café Brasileira, esse pequeno palco onde observa a cidade a nascer, folha a folha, nas páginas do Diário do Minho. Mastiga palavras, cumprimenta os rostos como quem beija a história de cada um. O Padre Tobias conhece as ruas como conhece as Escrituras: com reverência e familiaridade. E se o tempo deixar, visita um colega doente, um amigo que o tempo escondeu, mas que a amizade nunca deixou morrer.


Durante o dia, vê gente. Conversa. Escuta mais do que fala. Fala mais com o olhar do que com a boca. E quando o sol começa a render-se à noite, ele volta a palrar com o bom Deus — esse Amigo de sempre que nunca lhe falhou.


Pedralva é o Padre Tobias e o Padre Tobias é Pedralva. São inseparáveis como o tronco e o solo que o sustenta. Conhece cada batismo celebrado, cada primeira comunhão partilhada, cada crisma preparado com zelo. Foi testemunha de casamentos, abençoou filhos e depois netos, e carregou no peito o peso terno dos funerais. Viveu com os seus. Sofreu com eles. Riu e chorou ao seu lado. Não há muitos como ele — um homem que nunca quis ser mais do que alguém que conhece as suas ovelhas pelo nome, que vive no meio do rebanho, que se faz próximo sem invadir, que escuta sem julgar.


Porque ser padre, para Tobias, não é ter um título, é ser presença. É calçar as mesmas ruas, carregar os mesmos lutos, celebrar as mesmas alegrias. É conhecer as histórias, mesmo as que não se contam. É viver com, e não apenas para.


E por isso, quando alguém diz “o nosso padre”, não é só um costume — é verdade profunda. É pertença. É amor antigo. É Tobias, o pastor de almas, que nunca deixou de ser homem. E por isso, tornou-se mais do que isso: tornou-se memória, pilar, esperança.


Setenta e cinco anos de sacerdócio não se contam em datas. Contam-se em batimentos. No compasso sagrado entre o altar e a praça, entre a missa e o café, entre a fé e o mundo. E ali, nesse lugar onde céu e chão se tocam, vive — com humildade e grandeza — o Padre Tobias.


~Pe João Torres



segunda-feira, 5 de maio de 2025

O tempo que ainda temos

 



Há um tempo que se escapa…

E há um tempo que, por graça, ainda é nosso.


O que passou, passou com a pressa dos dias que não soubemos saborear.

Mas há este agora — simples, frágil, mas inteiro.

É neste instante que se joga tudo o que importa.


Vivemos muitas vezes como se as pessoas fossem eternas,

Como se os abraços pudessem esperar por dias mais tranquilos,

Como se o amor dito amanhã valesse o mesmo que o amor dito hoje.


Mas o tempo não espera.

E o amor, quando se adia, pesa.

Não porque se perca,

Mas porque se acumula como um nó no peito,

Como um gesto por fazer,

Como uma palavra que ficou por dizer.


Talvez hoje o maior acto de coragem seja este:

Estar. Estar de verdade.

Ouvir sem distracção. Olhar nos olhos.

Acolher o outro com tudo o que traz:

A alegria, a dúvida, a dor escondida.


Porque talvez amanhã já não possamos.

Talvez o outro já não esteja…

Talvez sejamos nós a já não estar.

E o que mais custa, nesses momentos,

Não é o que vivemos —

É o que deixámos por viver.


Ainda vamos a tempo.

Ainda hoje podemos tocar a vida de alguém com um gesto simples:

Uma presença sem pressa.

Uma chamada feita a tempo.

Uma palavra justa.

Um perdão que se dá.


O tempo que ainda temos é dom.

É o lugar onde Deus nos espera.

E talvez seja esse o milagre escondido no quotidiano:

Podermos amar melhor,

Com mais consciência,

Com mais ternura,

Com mais verdade.


Porque um dia, sim…

Um dia não teremos mais tempo.


Mas hoje…

Hoje ainda temos.


via Pe João Torres


junho de 2013

Guardo no meu coração as memórias mais felizes, de todos aqueles que amo, de todos os momentos de maior alegria. Dos momentos mais tristes guardo apenas as lições, aquilo que aprendi. São os instantes que enriquecem uma vida.

Manuel Filipe
Tercena, 5 de maio de 2025

dezembro de 2024





terça-feira, 15 de abril de 2025

Judas, onde estás?

 


Diante de Judas, o nosso primeiro impulso é apontar o dedo. Mas, se formos honestos, talvez o desconforto que ele nos provoca seja, na verdade, o reflexo das nossas próprias quedas. Judas é o espelho das nossas infidelidades, das promessas que não cumprimos, das alianças que rompemos em silêncio.


A traição… palavra dura. Não nasce do desconhecido. Não vem de longe. Ela acontece onde há vínculo, onde existe confiança e presença partilhada. Trair é quebrar o invisível que une duas pessoas. E por isso dói tanto: porque vem de quem está próximo, de quem se ama.


Judas não era um rosto estranho. Sentava-se à mesa. Partilhava o pão. Caminhava lado a lado. Era um dos do grupo. E, ainda assim, foi ele quem entregou. Porque a traição não tem rosto. Tem silêncio. Tem disfarce. Tem coração dividido.


Talvez cada um de nós carregue um pequeno Judas dentro de si. Quando escolhemos o interesse em vez da lealdade. Quando ficamos calados onde deveríamos ter falado. Quando trocamos afetos por moedas de conveniência. E fazemos isso sorrindo, com aparência de normalidade.


A Ceia continua. Jesus, sereno mas ferido, anuncia: “Um de vós há-de entregar-me.” E todos se entreolham, desconcertados. Porque o traidor pode ser qualquer um. Posso ser eu. Podes ser tu.


Judas, onde estás?

Talvez, um pouco... em cada um de nós.


~Pe João Torres



segunda-feira, 7 de abril de 2025

Dia Mundial da Saúde

 


A saúde não é um privilégio, é um direito


Ainda o sol não nasceu e já há gente à porta do centro de saúde. Velhos que agarram a bengala e a paciência. Mães com crianças ao colo, embalando a febre e a esperança. Trabalhadores que, entre turnos e cansaços, tentam encaixar uma consulta.


Lá dentro, médicos exaustos, enfermeiros a dividir-se em mil, administrativos a gerir filas que crescem mais depressa do que as respostas. No outro lado da cidade, alguém faz um seguro de saúde porque desistiu de esperar.


E, no entanto, a Constituição diz: a saúde é um direito. O SNS é para todos, mas será que ainda chega para todos?


Na sala de espera, há quem conte as horas. No hospital, há profissionais que já perderam a conta aos turnos. E, ao lado, clínicas privadas que florescem com cada nova desistência.


Não podemos esquecer: a saúde não pode ser mercadoria. Não pode ser só para quem pode pagar. Não pode ser um número numa lista de espera infinita.


Porque a doença não espera. Porque a dignidade não pode ser um luxo. Porque um país que cuida é um país que não abandona.


~Pe João Torres



quinta-feira, 13 de março de 2025

Let it go



Casa limpa, alma viva


Abre as janelas. Deixa o ar entrar, varrer o que ficou esquecido nos cantos. A casa respira contigo. Já reparaste como os espaços acumulam tudo? Guardam memórias, mas também pesos que já não te pertencem. Papéis amarelados de histórias que já não te vestem, objetos esquecidos que já não contam quem és. Há demasiado passado a ocupar o presente.


Solta. Esvazia. A vida precisa de espaço para dançar. Deixa ir o que está quebrado, o que não usas, o que já não faz sentido. Desapegar não é perder, é libertar. Cada gaveta organizada, cada canto limpo, cada objeto que parte é um pedaço de leveza que entra.


Casa leve, alma livre. Olha à tua volta: o que te pesa? O que já não te serve? Pergunta-te: "Isto ainda faz sentido em mim?" Se não, solta. Doa, recicla, transforma. Porque ao limpar por fora, limpas por dentro.


Faz da tua casa um templo de luz. Faz do teu espaço um reflexo da tua paz. E lembra-te: quando a casa se liberta, tu também te tornas infinito.


~Padre João Torres