Mostrar mensagens com a etiqueta Paulo Bastos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Paulo Bastos. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 1 de abril de 2022

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Exaltação da Cruz


Atei os meus braços com a tua Lei, Senhor,
E nunca os meus braços chegaram tão alto.

Ceguei os meus olhos com a tua Luz, Senhor,
E nunca os meus olhos viram tão longe!

Só desde que Te dei a minha alma, Senhor,
Ela é verdadeiramente minha.

Por isso, hei-de subir até à Vida,
Despedaçando o corpo na subida.
Por isso, hei-de gritar, de porta em porta,
A mentira das noites sem estrelas;

Hei-de fazer florir açucenas nos meus lábios;
Hei-de apertar a mão que me castiga;
Hei-de beijar a cinza dos escombros;
Hei-de esmagar a dor
E hei-de trazer, aqui, sobre os meus ombros,
A tua cruz, Senhor!

Nota:
Hino do Ofício de Leitura das Sextas-feiras

Exaltação da Cruz, 14 de setembro - Zimbórios 

domingo, 25 de abril de 2021

Agora nunca é tarde

 

Cada um de nós nasce
Com um artista lá dentro
Um poeta, um escultor, um aventureiro
Um cientista, um pintor, um arqueólogo
Um estilista, um astronauta, um cantor
Um marinheiro
E o sonho e a distância, e o tempo e a saudade
Deram-nos vida, amor, problemas, mentiras e verdade
E damos por nós mesmos descobrindo que agora
Agora se calhar, já é um pouco tarde
E nas memórias velhas e secretas da menina
Mora sempre aquele sonho de ser
Bailarina, atriz, modelo, princesa, muito rica, eu sei lá
Mas os anos correram num assombro
E a vida foi injusta em qualquer jeito
Para a chama indelével que ainda arde
E os filhos, os filhos são bonitos no seu peito
Mas agora é que, pra certas coisas
Agora já é tarde
E nos papéis antigos que rasgamos
Há sempre meia dúzia que ainda guardamos
São os planos da conquista do Pólo Norte
Que fizemos um dia com sete anos numa tarde
E que estiveram perdidos trinta anos
E agora, se calhar, maldita sorte!
Não é que por desnorte, acaso ou esquecimento
Alguém já descobriu o Pólo Norte
E agora pronto, e agora pronto, agora já é tarde
Há sempre, sempre nas gavetas escritores secretos
Cientistas e doutores
Desenhos e projectos construtores feitos em meninos
De tudo o que sonhámos fazer quando fosse a nossa vez
Cientistas em busca de Plutão, arqueólogos no Egito
Viajantes sempre sem destino
Futebolistas de sucesso do caramba no Inter de Milão
Mas o curso da vida foi traidor
E o curso da vida foi covarde
E o ciclo do tempo completou-se, e agora pronto
Agora, agora já é tarde, agora é tarde
Emprego, casa, filhos muito queridos
Algum sonhar um pouco com amigos
Às vezes sair, beber uns copos pra esquecer ou pra lembrar
E fazer ainda, é claro, um certo alarde
Talvez para esconder ou para abafar
Como é já tão demasiado e impiedosamente tarde
Ah mas não, não, não pode ser assim
Nunca é tarde para renovar, nunca é tarde pra se sonhar
Nunca é tarde
Amanhã partimos todos para Istambul
Vladivostock, Alasca, Oslo, Dakar
Vamos à selva, eu vou a Timor abraçar aquela gente
E às montras de Amsterdam
Que eu afinal também não sou diferente
E chegando a Tóquio, companheiro
Chegando a Tóquio, são horas de jantar hein
É que ainda temos que voltar por Bombaim
Passando por Macau e Calcutá
Que eu encontro Portugal em todo o lado
E mesmo fugindo nunca saio de mim
E se esse marinheiro, galã, aventureiro, esse já não há
Pois que nos cumpramos ao menos agora até o fim
No que fazemos, na diferença do que formos e dissermos
E perguntando, criando rebeldias
Conferindo aquilo que acreditamos
E o que ainda formos capazes de sonhar
E se aquilo que nos dão todos os dias
Não for coisa que se cheire ou nos deslumbre
Que pelo menos nunca abdiquemos de pensar
Com direito à ironia, ao sonho, ao ser diferente
E será talvez uma forma inteligente de, afinal, nunca
Nunca ser tarde demais para viver
Nunca ser tarde demais para perceber
Nunca ser tarde demais para exigir
E nunca ser tarde demais para acordar”
Pedro Barroso divulgação: mural man@

sincronicidades 2022.04.25: mural man@

quinta-feira, 16 de julho de 2020

A fome


Pai Nosso

Que as nossas mentes
mais facilmente se abram
ao sofrimento alheio,
e que,
desprovidos do julgamento
pronto e automático,
saibamos cada dia
com mais prontidão
acolher e assim perdoar
toda a ansiedade e medo,
ira e preguiça,
cobiça e inveja,
que tão miserável
e infelizmente,
ainda contaminam
as nossas tristes,
mas potencialmente santas,
mentes...

Ámen

Mano,
Tercena, 16 de Julho de 2020

Com gratidão a Paulo Bastos pela inspiração


divulgado no mural de Manuel Filipe Santos


Os Espinhos da Rosa

A fome é a vida dos pobres e foi inventada
Por gente que nunca a roubou só porque a fome
É nada 
mas nós, que somos cientistas
Da nossa ignorância, lembramos os males do mundo
Esquecendo a ganância.
A fome é a raiva dos pobres e foi desenhada
Com lápis de sangue sugado aos de vida parada.
Mas nós, que somos heróis da nossa fraqueza,
Dizemos que o melhor ataque é sempre a defesa.
Se alguém pergunta quem foi
Que deixou tanta fome espalhada,
Aparece logo outro alguém a dizer que... afinal
Não foi nada!...
- e oferecemos cantigas, remorso a quanto obrigas...
Mais nada!
A fome tem só uma cor é negra de morte
À volta ninguém lhe resiste porque ela é mais forte.
Mas nós, piamente sentados na nossa indiferença,
Marcamos à última hora a nossa presença.
Se alguém pergunta quem foi
Que deixou tanta fome espalhada,
Aparece logo outro alguém a dizer que... afinal
Não foi nada!...
- e oferecemos cantigas, remorso a quanto obrigas...
Mais nada!
A fome tem gente por dentro para a manobrar.
Tem séculos e séculos de vida passada a matar.
Se hoje a medalha é fraterna cantando-lhe o verso,
Só queria ver o que se esconde no próprio reverso.
Se alguém pergunta quem foi
Que explorou tanta gente humilhada,
Aparece logo outro alguém a dizer:
"não sabia de nada..."
- e oferecemos cantigas, cantar a quanto obrigas...
Mais nada!
A fome precisa de ter o final que merece,
Porque ela é aquilo que é, não é o que parece.
Julgando que a culpa se tapa com tapa-buraco,
Mandamos somente impotência metida num saco.
Se alguém pergunta quem foi
Que explorou tanta gente humilhada,
Aparece logo outro alguém a dizer:
"não sabia de nada..."
- e oferecemos cantigas, cantar a quanto obrigas...
Mais nada!