Pai Nosso
Que as nossas mentes
mais facilmente se abram
ao sofrimento alheio,
e que,
desprovidos do julgamento
pronto e automático,
saibamos cada dia
com mais prontidão
acolher e assim perdoar
toda a ansiedade e medo,
ira e preguiça,
cobiça e inveja,
que tão miserável
e infelizmente,
ainda contaminam
as nossas tristes,
mas potencialmente santas,
mentes...
Ámen
Tercena, 16 de Julho de 2020
Com gratidão a Paulo Bastos pela inspiração
divulgado no mural de Manuel Filipe Santos
Os Espinhos da Rosa
A fome é a vida dos pobres e foi inventada
Por gente que nunca a roubou só porque a fome
É nada
mas nós, que somos cientistas
Da nossa ignorância, lembramos os males do mundo
Esquecendo a ganância.
A fome é a raiva dos pobres e foi desenhada
Com lápis de sangue sugado aos de vida parada.
Mas nós, que somos heróis da nossa fraqueza,
Dizemos que o melhor ataque é sempre a defesa.
Se alguém pergunta quem foi
Que deixou tanta fome espalhada,
Aparece logo outro alguém a dizer que... afinal
Não foi nada!...
- e oferecemos cantigas, remorso a quanto obrigas...
Mais nada!
A fome tem só uma cor é negra de morte
À volta ninguém lhe resiste porque ela é mais forte.
Mas nós, piamente sentados na nossa indiferença,
Marcamos à última hora a nossa presença.
Se alguém pergunta quem foi
Que deixou tanta fome espalhada,
Aparece logo outro alguém a dizer que... afinal
Não foi nada!...
- e oferecemos cantigas, remorso a quanto obrigas...
Mais nada!
A fome tem gente por dentro para a manobrar.
Tem séculos e séculos de vida passada a matar.
Se hoje a medalha é fraterna cantando-lhe o verso,
Só queria ver o que se esconde no próprio reverso.
Se alguém pergunta quem foi
Que explorou tanta gente humilhada,
Aparece logo outro alguém a dizer:
"não sabia de nada..."
- e oferecemos cantigas, cantar a quanto obrigas...
Mais nada!
A fome precisa de ter o final que merece,
Porque ela é aquilo que é, não é o que parece.
Julgando que a culpa se tapa com tapa-buraco,
Mandamos somente impotência metida num saco.
Se alguém pergunta quem foi
Que explorou tanta gente humilhada,
Aparece logo outro alguém a dizer:
"não sabia de nada..."
- e oferecemos cantigas, cantar a quanto obrigas...
Mais nada!
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