1. Tão simples — e tão belo — é escutar. Mas coisa cada vez mais rara é calar.
Nestes dias de correria, parece que espatifamos o silêncio. Desaprendemos de ouvir e já não sabemos calar.
2. A palavra é tão preciosa que nunca deveríamos desperdiçá-la. A palavra não é só para usar. Deveria ser também — e bastante — para guardar.
Se as palavras estão constantemente a sair de nós, que se pode, de relevante, encontrar em nós? Só a palavra que não é banalizada merece atenção cuidada.
3. Acontece que, nesta vida tão intensa, o silêncio não goza de boa imprensa.
Só se fala de quem fala. Quem fala de quem (se) cala? Para muitos, calar é não ser, é quase não existir.
4. Em permanente conspiração contra o silêncio, nem sequer percebemos que aquele que fala também precisa daquele que (se) cala.
Como pode haver comunicação com palavras em contínua — e ruidosa —sobreposição?
5. O paroxismo deste cenário está nas entrevistas televisivas. Que disponibilidade mostram os entrevistadores para ouvir os entrevistados?
Como é possível responder se há quem esteja sempre a interromper?
6. Para nós, hoje, a palavra é apenas som. A sua eficácia não é procurada na razão que transporta, mas no ruído que provoca e no volume que atinge.
É por isso que, muitas vezes, o diálogo é substituído pelo protesto. Pensa-se que mais alcança quem mais grita.
7. Sucede que a palavra não é apenas som. Nem principalmente som.
Como bem notou São João da Cruz, Deus só proferiu uma Palavra — o Seu Filho — e proferiu-A em silêncio. Foi no Seu eterno silêncio que Deus disse tudo.
8. Olhemos para o silêncio de Belém e aprendamos com Deus, que fala calando-Se.
O Natal é a festa do silêncio que fala. A divina Palavra acampou no silêncio do Menino que nasceu, do Filho que nos foi dado (cf. Is 9, 6).
9. Não consta que os Magos abrissem a boca quando viram Jesus (cf. Mt 2, 11). Diante do silêncio que se faz Palavra, as nossas palavras só podem fazer silêncio.
Necessitamos de uma «pastoral da gestação» (Philippe Bacq) que nos reaproxime do silencioso «mistério da geração» (São Guerrico).
10. Os nossos encontros ainda são demasiado palavrosos. Habituemo-nos, pois, a estar com o Senhor sem abrir os lábios.
Um pouco de silêncio com Deus consegue (infinitamente) mais do que muitas palavras sobre Deus!
~Pe João António Pinheiro Teixeira