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terça-feira, 30 de junho de 2020

Cobardia


No passado dia 22 enviei o seguinte mail aos meus vizinhos:
Bom dia vizinhas e vizinhos,

Espero que tudo esteja bem convosco.

Só para que tenham conhecimento 
e possam tomar as devidas precauções, 
venho por este meio relatar o assalto 
de que ontem fui vítima, pelas 19h15, 
quando subia da garagem para a nossa rua. 
Dois indivíduos de etnia africana, 
vinham a correr no sentido contrário, 
usando máscara. 
Desviei-me para os deixar passar e,
imprudentemente, baixei o olhar. 
Num ápice, o indivíduo que corria na frente, 
com fato de treino claro e cabelo encaracolado, 
lançou a mão ao fio de ouro que trazia e arrancou-mo, 
continuando a correr no mesmo sentido descendente... 
Fui completamente surpreendido 
e senti que não deveria correr atrás deles. 
Reportei a situação na Esquadra de XXX.

Um abraço a todos,

Manuel Filipe Santos.


Fiquei sem a jóia mas ainda tenho pescoço, apesar de ferido.
Era um fio/cruz que me tinha sido oferecido
pela mãe das minhas filhas 
e que usei durante mais de 20 anos. 
Deve ter sido o objecto que mais tempo de vida 
me acompanhou. 
Como bónus levaram também uma pequena medalha,
com o Imaculado Coração de Jesus e Maria,
pendurada no mesmo fio, que tinha comprado há poucos meses
em Fátima.

No dia seguinte, fiz questão de rezar pelos jovens,
apesar do acto cobarde que tiveram. 

Gosto de pensar que precisava de deixar aquele objecto partir.
Sem saberem, fizeram-me um favor.
Libertaram-me do passado. 
De um passado que eu insistia em carregar.

Hoje sinto-me mais leve, pois aquele fio
transportava muitas memórias de dor,
muita angústia, muita frustração.

Curiosamente, dias antes, tinha tido um sonho violento
em que, por algum motivo que não recordo,
tive a consciência plena que me era arrancada 
uma máscara da cara. Não consigo deixar de relacionar
este sonho com o episódio. No sonho, os elásticos da máscara
eram claramente rebentados e as orelhas puxadas. 
Na realidade eu não trazia máscara mas fiquei sem o fio de ouro 
que me foi arrancado e a t-shirt destruida.

Agradeço estar aqui para contar esta história,
pois algo na altura me disse que mais valia a minha vida
e a deles, do que manter o fio na minha posse.
Manifestei o meu desagrado, 
chamando-lhes um nome que não me recordo
mas não tive vontade nenhuma de correr atrás deles.

Não sinto que tenha tido medo 
mas não tive vontade de lutar.
E isso surpreendeu-me. Não me reconheci.

Julgo que decidi correctamente.
É por isso que hoje dou graças a Deus!

Da próxima vez, 
espero que novamente o Espírito Santo
me acompanhe.

Filipe
Oeiras, 30 de Junho de 2020.

2020.07.16

Ainda não perdoei o irmão que me roubou...
Hoje quando vinha a chegar a casa, exactamente no mesmo local onde fui assaltado, conforme descrevi em cima. Vi passar um Audi preto, a grande velocidade, e era capaz de jurar que o assaltante ia sentado no lugara do morto. Parecia estar a pegar em qualquer coisa, junto aos seus pés, estando ligeiramente inclinado para a frente. O cabelo, a cor da pele e o olhar fizeram um match automático com a fotografia mental que guardei. O carro ia a subir na direcção de Massamá, cerca das 20h20.
Este incidente mostrou-me que ainda não o perdoei...

🙏