Ontem tive este sonho fantástico em que fazia uma festa, em plena pandemia, no jardim dos meus avós, no Porto. Era uma festa de arromba, em que participavam montes de gémeos que se aproximavam de mim. Entusiasmado, eu reparava nos seus rostos felizes enquanto me pediam para tirar selfies com eles.
Acordei quando me preparava para tirar uma selfie com 3 pares de gémeos mas com a grande preocupação de que algum vizinho chamasse a polícia, por causa do COVID... 👀
Claro que cometemos erros. Claro que não temos sido muito hábeis. Claro que provocámos sofrimento em nós e nas pessoas ao nosso redor. Mas isso não nos impede de melhorar, de transformar, de começar de novo. Começar de novo significa olhar profunda e honestamente para nós mesmos, para as nossas ações, palavras e pensamentos passados, e suscitar um novo começo em nós mesmos e nos nossos relacionamentos com os outros. O Buda disse que se você não sofrer, não pode aprender. Aprendemos cometendo erros. Podemos começar de novo no último momento do dia e até no último momento de nossa vida. Num dia inteiro, em vinte e quatro horas, você tem imensas oportunidades de começar de novo.
Meus amigos, Deus assume uma forma humana para falar conosco, para nos dizer: "Aqui estou, meus filhos", de outra forma não teríamos nenhuma possibilidade de conhecê-Lo. Não nego que Deus também seja impessoal, porém sua impessoalidade é realizada no estado supraconsciente, quando o ser individual transcende as noções de seu próprio corpo, mente, intelecto e ego.
O conceito de Encarnação Divina é muito mais difícil de compreender que a ideia de Deus impessoal, pois esta pode ser entendida, em parte, pela lógica humana, pela inferência e dedução. Entretanto, para reconhecer um ser humano como Encarnação Divina, como Messias, necessita-se de: conhecimento direto, percepção pessoal, senti-Lo intimamente como o Bem-Amado Salvador. Esse conhecimento direto, que é dom divino, poucas pessoas o possuem, pois é concedido pela misericórdia divina no final do caminho espiritual. Para os principiantes e para os devotos que estão se preparando para uma vida espiritual há um sinal infalível que torna possível reconhecer, desde o começo, uma Encarnação Divina: o seu absoluto altruísmo.
Estudando minuciosamente a vida de Jesus, nos quatro Evangelhos, não encontrei qualquer referência de atos e pensamentos egoístas. Os seus atos pessoais eram feitos, em geral, para ensinar as pessoas. Quando descobri esse seu absoluto não egoísmo, toda minha reverência para com Jesus se transformou em amor. Prosternando-me ante sua divina personalidade, adorei-O como Encarnação Divina, como Deus, que vem em diferentes épocas para nos ensinar os diversos caminhos para chegar até Ele.
Dizem os cristãos, especialmente os sacerdotes, que Jesus é a única Encarnação Divina. Essa questão não pode ser estabelecida dogmaticamente. Pelos dogmas, ninguém conheceu Deus, nem reconheceu o Messias. Os dogmas religiosos, em qualquer religião, querem suprimir o discernimento, absolutamente necessário nas primeiras etapas de toda experiência religiosa. O discernimento purifica o entendimento e ajuda o florescimento e a frutificação do conhecimento direto. Os cristãos devem seguir os divinos ensinamentos de Jesus e, se os seguirem fielmente e receberem sua misericórdia, verão que Aquele que veio há mais de 2.000 anos, na cidadezinha de Belém, para salvar a humanidade errante e enferma, veio antes com outros nomes e outras formas, e continuará vindo enquanto o seu divino coração se comover com o clamor daqueles que aspiram à espiritualidade. Deus virá como antes, para nos ensinar a querê-Lo e a nos amarmos uns aos outros.
O evangelho de Jesus Cristo é puro amor, amor que eleva, amor que jamais deprime. Ele ensinou esse amor divino que transforma radicalmente aquele que, de forma equivocada, apegou-se aos prazeres mundanos, fazendo-o retornar ao Ser, que é essencialmente divino. A mensagem de Jesus não exclui ninguém, não pressiona ninguém, não atemoriza ninguém. Sua mensagem nos infunde valor, intrepidez e nos conduz à imortalidade.
Para sentir intimamente e de forma ininterrupta esse supremo Amor é que todas as religiões nos recomendam fé e disciplina moral. Fé é o sentimento íntimo que cresce com a experiência pessoal; a fé de outra pessoa pode nos ajudar como incentivo, porém necessitamos experimentar diretamente. Assim, para ter essa experiência direta necessitamos da disciplina de uma vida moral. A prática dessa disciplina é dupla e consiste na estrita aderência à verdade e de uma vida não egoísta. Tais práticas são idênticas em todas as religiões. Todos os santos e santas do mundo são figuras luminosas dessas duas grandes qualidades. A santidade não depende de milagrosas curas físicas. Os santos e santas, como exemplos da Verdade subjetiva e suprema, irradiam a verdadeira espiritualidade através de suas vidas de total desapego e renúncia, e quem quer que se aproxime deles com sinceridade, fica transformado.
Quem praticar com sinceridade as mencionadas normas morais, não importa sua nacionalidade e religião, sentirá sem dúvida um gradativo progresso espiritual, sua fé crescerá e seu pequeno “eu” romperá todos os laços ilusórios. Seu amor para com seus semelhantes facilmente eclipsará todas as barreiras e, por último, esse sincero e dedicado aspirante se transformará num conhecedor, num devoto sincero, e se unirá definitivamente com o Pai eterno e universal.
Rogo, de todo coração, e com fervente anelo, para que o Divino Filho, encarnação do mais puro amor, leve-nos do irreal ao Real, das trevas à Luz, da morte à Imortalidade. Prosternando-me aos benditos pés de Jesus Cristo, peço-lhe que nos impregne de Seu Divino Amor.
(Seleções do livro "Assim Falou Jesus Cristo" escrito por Swami Vijoyananda).