terça-feira, 3 de janeiro de 2023

As últimas palavras de Bento XVI…

POSTAL DO DIA 


As últimas palavras de Bento XVI não me descansam 


1.

Bento XVI morreu e o seu corpo está a ser velado no Vaticano. Milhares de fiéis esperaram horas para poder oferecer a sua homenagem ao “guardião da fé”.


Bento XVI surpreendeu-me. 


E merece ser aplaudido por algumas das marcas que nos deixou: a começar pelo modo como abdicou de todo o poder, o primeiro que o fez nos últimos 600 anos na Igreja Católica. 


Não é coisa pouca. 

Um homem que abdica do poder, um homem que percebe que já não o poder exercer, um homem que o consegue apesar de todas as pressões que deve ter sofrido dos seus mais próximos, dos que com ele perderiam regalias e estatuto, é tudo menos um pormenor. 


2.

Bento XVI era um intelectual. 


Um homem que pensava. 

Que lia e escrevia. 

Um homem que falava várias línguas, que lia diretamente do hebraico, que gostava e precisava de longos retiros para se sentir ele próprio. 


Um intelectual tem dificuldades muito particulares no exercício do poder. E quando o exercício do poder significa uma influência direta em relação à vida de milhões de pessoas, a coisa piora. Não é fácil encontrar um intelectual que não tenha dificuldades na tomada de posição, regra geral quando assume o poder tenta que a sua natureza não seja prevalecente em relação ao desígnio da ação – na maior parte dos casos não dá bom resultado. 


Bento XVI conseguiu deixar uma marca importante. 


E talvez de uma forma inadvertida abriu espaço para Francisco, um líder completamente diferente. 


3.

Li com enorme prazer a biografia que escreveu sobre Jesus Cristo. 


Extraordinário contributo para a compreensão, sem ortodoxias da figura do filho de José e Maria, do “filho de Deus” para tantos de nós. Para mim também, apesar de não ser religioso, para mim também. 


Esta introdução para reforçar a força e o interesse da última frase que saiu da boca de Bento XVI antes de partir. 


Um enfermeiro de turno, o último que viu o Papa Emérito vivo, escutou as palavras e passou-as ao mundo. Bento XVI terá dito em italiano, “Senhor, eu amo-te”.  


4.

Uma frase importante que me fez pensar esta manhã. 


Uma última frase que, tendo acontecido ou não, ficará para a história. 


Mas que diz um pouco sobre o muito que devemos refletir para que a nossa passagem por aqui – a minha e a tua – possa ser virtuosa. 


Estou há muitos anos convencido de que o mais importante não é amarmos uma ideia de transcendência. Apesar de acreditar em Deus não faz sentido estar todos os dias inclinado perante o silêncio quando a relação com o que me transcende só pode ser alimentada por aquilo que eu fizer aqui. 


Dizer que amo Deus antes de partir é muito bonito e importante, não o nego. 


Mas muito mais importante é a capacidade de sermos todos os dias pessoas inteiras. 

De sermos gente que acredita que o caminho se faz aqui, que o combate contra as iniquidades, contra a miséria humana, contra as injustiças se faz aqui. 


Essa é a batalha, termos a capacidade de dizer que amamos a vida, esta que temos e não qualquer outra que exista fora de nós. 


Que amamos a possibilidade de podermos ser o que sonhamos. De podermos ganhar sem atropelar a pessoa ao lado. De podemos escrever e ler livros, ver peças de teatros e filmes, imaginar caminhos nunca caminhados, responder a perguntas nunca respondidas ou simplesmente fazer o melhor possível. 


Estar à altura do que a vida nos propõe. 

Mesmo que a nossa vida seja estreita ou que a julguemos estreita, temos de fazer o melhor possível com o que somos, com o que herdámos. 


Acredito em Deus, mas no final da minha vida diria “amei cada minuto que aqui passei, cada possibilidade que tive de ser melhor, de fazer melhor, cada falhanço também”. 


Porque o meu Deus, como já escrevi num livro a que chamei “Amor”


“… Não tem voz grossa, tem a que imagino. O meu Deus não me castiga, oferece-me liberdade. O Meu Deus não me chantageia, acredita na responsabilidade. O meu Deus não me corta o desejo, recomenda-me uma canção. O meu Deus dança comigo quando danço sem par. O meu Deus tem humor, escuto-o e sei do que falo. O meu Deus está aqui, se me virar rápido ainda o vejo. O meu Deus é um pressentimento, uma promessa, é o bem e o mal, sou eu nos piores dias. É esperança e virtude. O meu Deus acredita em mim”. 


Foi isso que escrevi e talvez um dia, quem sabe, o possa discutir com Bento XVI numa qualquer língua que hoje não conheço.


LO

fonte: Luís Osório 

Bento XVI


sábado, 31 de dezembro de 2022

Adeus Jicá

Que m* de fim de ano!

Acabar este ano com a notícia da tua partida, ainda por cima depois de anos de sofrimento que eu desconhecia, foi como que levar literalmente um estalo do universo. Fomos companheiros de ciclo até ao final de Liceu e entrámos juntos na mesma Faculdade, apesar de serem cursos diferentes, entre 1974 e 1983. Praticámos judo juntos na ADO, estudámos juntos e nunca esquecerei as tuas “famosas” festas de garagem… Apesar de te ver como um amigo, representavas para mim uma figura de pai talvez por seres muito mais alto do que eu, mas sempre admirei a tua calma, a tua serenidade, a tua paixão pelos Beatles e adorava ouvir-te tocar viola, o teu sorriso… Há muitos anos tentei reatar o contacto contigo mas sem sucesso, liguei para o telefone que seria o teu, queria convidar-te para ires a minha casa, reconstruir essa amizade que tanto apreciei e que nunca esquecerei… mas não fui bem sucedido. Depois acabei por me esquecer… Hoje censuro-me por não ter tentado mais. Sei que podia ter feito mais. Gostaria de ter estado contigo na tua dor. Dar-te um abraço. Estar lá contigo. Soube hoje que sofreste muito nestes últimos anos. Perdoa a minha ausência. Hoje quando abracei a tua mãe, cumprimentei o teu pai e reencontrei tantos amigos comuns, foi a ti que abracei. Quero que saibas isso. Tinha tantas saudades tuas…!


Um abraço do tamanho do mundo,

Filipe.


o funeral é hoje dia 31 de dezembro,
nas capelas mortuárias da igreja de Nova Oeiras,
pelas 15h, seguindo depois
para o crematório de Cascais (16h).



sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Família, Igreja doméstica

FAMÍLIA, IGREJA DOMÉSTICA

.

Jesus, Maria, José,

Família Sagrada para sempre,

testemunho permanente de Fé.


De Maria o primeiro sim,

o sim de José em seguida,

o sim total de Jesus,

no Calvário naquele dia,

abraçado àquela Cruz,

que afinal não foi um fim, 

mas sim começo e vida.


Que a minha família assim seja

toda ela doação,

perfeita igreja doméstica,

num sim permanente a Deus,

em contínua oração.

.

Marinha Grande, 29 de Dezembro de 2013 

Joaquim Mexia Alves

Conferência Vicentina Nossa Senhora das Graças 


Todos estão surdos

 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Os Vendilhões do Templo

Os Vendilhões do Templo

Deus disse: faz todo o bem

Neste mundo, e, se puderes,

Acode a toda a desgraça

E não faças a ninguém

Aquilo que tu não queres

Que, por mal, alguém te faça.


Fazer bem não é só dar

Pão aos que dele carecem

E à caridade o imploram,

É também aliviar

As mágoas dos que padecem,

Dos que sofrem, dos que choram.


E o mundo só pode ser

Menos mau, menos atroz,

Se conseguirmos fazer

Mais p'los outros que por nós.


Quem desmente, por exemplo,

Tudo o que Cristo ensinou.

São os vendilhões do templo

Que do templo ele expulsou.


E o povo nada conhece...

Obedece ao seu vigário,

Porque julga que obedece

A Cristo — o bom doutrinário.


António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."


© Direitos reservados

via Joaquim Carlos Silva


sábado, 24 de dezembro de 2022

Encontrar Jesus

Queridos irmãs e irmãos, o Natal fica incompleto se cada um de nós não puder ver com os seus próprios olhos e não puder tocar o mistério de Deus. O Natal é a anti abstração. 


O Natal possui a concreta objetividade de um acontecimento que se dá diante de nós e em nós. Cada um com as perguntas que traz, com as experiências que transporta, com a situação real que vive é chamado a ver Deus. A ver Deus naquele Menino de carne e osso, naquela criança, naquele Filho que nos foi dado. Ao mesmo tempo, que somos igualmente chamados a nos deixarmos ver por Ele. 


A esse propósito escreveu Santo John Henry Newman: "Quem quer que tu sejas, Deus olha-te de um modo único e particular; Ele chama-te pelo nome; Ele te vê e compreende porque é Ele que te criou. Ele conhece tudo aquilo que existe em ti, cada uma das tuas emoções e dos teus pensamentos, a tua força e a tua fraqueza". Jesus não vem apenas ao encontro da Humanidade, vem ao encontro de mim, de ti, de cada um de nós. E o verdadeiro ver aplicado a Jesus implica a compreensão profunda de quanto somos vistos, quer dizer, de quanto somos olhados, amados e conhecidos. 

~José Tolentino Mendonça 

José Tolentino Mendonça 


Presépio Vivo

Todos os dias em algum lugar do mundo,
o presépio está vivo.
Poesia-me


 

sobre a importância de dormir