Fazem jus as memórias do Prof. Adriano Moreira à sua conhecida inteligência e à sua (igualmente) reconhecida sensibilidade.
De quanto ele reporta, nesse magnífico repositório de vivências, há um episódio delicioso que não resisto a reproduzir.
Quando era Ministro nos tempos do Estado Novo, foi visitar Moçambique. Na cidade da Beira, pôs-se à disposição do público para dialogar.
Eis que o Bispo da Beira, o grande D. Sebastião Soares de Resende, levanta uma questão: «A que velocidade vai ser executada a revogação do Estatuto do Indígena?»
Tal revogação, diga-se, tinha sido aprovada há já algum tempo. E, já nessa altura, havia a tendência para promulgar leis que, depois, não eram aplicadas ou só eram aplicadas muito mais tarde.
Resposta pronta (e sobretudo acutilante) do Ministro: «Senhor D. Sebastião, a sua lei já tem uns dois mil anos e agradecia que me dissesse a que velocidade vai para ver se o acompanho».
De facto, Jesus deixou-nos uma lei, uma lei nova, uma lei suprema, uma lei maravilhosa. Foi no discurso da Última Ceia que, à guisa de herança, no-la legou: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 13, 34).
A lentidão com que nós, cristãos, cumprimos (ou a rapidez com que incumprimos e violamos) essa lei é exasperante.
Ressalve-se que D. Sebastião até nem era dos mais culpados já que foi sempre um ardente defensor dos mais pobres.
Mas subsiste a pertinência da ministerial réplica. Como exigir dos outros o que nós, pelos vistos, não estamos dispostos a fazer?
in Na Paz, a Verdade+++
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