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Conhecimento desperta a consciência
São José do Rio Preto, 1 de fevereiro de 2009
Editoria de Arte
Ariana Pereira
Por dez semanas, mais de um milhão de pessoas ao redor do mundo inteiro estiveram conectadas em busca de uma transformação do cenário atual em que a sociedade está inserida. O evento em questão não é a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, muito menos os conflitos entre Israel e Palestina na faixa de Gaza. Os autores desse feito são Oprah Winfrey e Eckhart Tolle. Ela, apresentadora norte-americana reconhecida mundialmente; ele, autor do livro “Um novo mundo – o despertar de uma nova consciência” (Sextante). Por meio de transmissões ao vivo na internet, disposição de arquivos de áudio, vídeo e textos para o desenvolvimento e aplicação do conteúdo do livro, Oprah e Eckhart mobilizaram e provocaram os que acompanharam o trabalho para que os seres humanos despertem para um tempo que o escritor define como decisivo para a sobrevivência da espécie humana na terra. Abaixo, a Revista Bem-Estar transcreve um resumo do que os internautas de todo o mundo têm acesso no site http://www.oprah.com/.
O desabrochar da consciência humana
“O que a vida ou Deus quer de mim?” é a pergunta a ser feita no lugar de “ O que eu quero da vida?”. A vida mesmo dará essa resposta em um lugar que chamo Consciência. Para receber uma resposta, é necessária a prática da quietude. Assim calam-se os ruídos mentais, os pensamentos. A resposta não é imediata. Temos de confiar na vida quando há um impulso forte. Isso não significa, necessariamente, que você tem de obedecer a cada impulso. A natureza dá acesso ao silêncio interior se você estiver plenamente presente. Quando você contemplar uma flor, a veja sem interferência de pensamentos, para realmente enxergá-la. Isso é o que Jesus disse: “Olhai os lírios do campo”. Ele quis dizer: “Eles incorporam algo que você também tem. Mas pela ansiedade sobre o amanhã, não percebe. As flores não são ansiosas nem preocupadas com o futuro e veja como são bonitas! Você também pode viver assim”.
Estar presente com a percepção. Este tema é, talvez, o principal que atravessa todo o livro. É preciso deixar de rotular pessoas e situações. Isso não significa que você precisa esquecer o que aprendeu. Poderíamos chamar isso de “perceber”, ver através de um fundo de quietude. Há pessoas que estão tão presas em um ruído mental contínuo - e isso absorve a atenção durante o tempo todo - que não veem que o mundo à sua volta tem vida. Tornam-se frias, sem vida, presas em suas cabeças, não estão presentes. A condição humana perde-se em pensamento. Você tem de estar consciente, portanto, observe sua própria mente. Os pensamentos são condicionados pelo passado, infância, educação, cultura. E há uma disfunção incorporada na própria estrutura do nosso processo de pensamento. Essa é a forma como o ego surge.
Quando você desperta para isso, um lote de velhas vozes na cabeça, o velho pensamento ainda surge. Você não precisa agir sobre ele, dizer: “Vá embora, não quero pensar nisso.” Isso não funciona. O essencial é reconhecê-lo como pensamento condicionado. O agora é o ponto para entrar no estado de consciência. Há muitas coisas que você pode fazer para acessar o poder do momento presente. Por exemplo, quando fizer coisas simples como lavar as mãos, andar pela sala ou descer as escadas, as faça conscientemente, tornando-se presente cada sensação. Olhe, ouça, toque. O poder só pode fluir em sua vida quando você está completamente presente, totalmente com o que você está fazendo agora. E é por isso que a maioria não tem esse poder, porque vive sempre para a próxima coisa, desvaloriza o momento presente.
A mente de muitas pessoas está cheia de coisas, de contínuos pensamentos, emoções. E a vida exterior é cheia de coisas que precisam ser feitas, uma coisa depois da outra. Na vida de muitos parece não haver espaço interior, que eu chamo de calma. Uso esse termo, mas ele é mais vasto do que apenas calma. Pensamentos surgem a todo instante e tornam-se um objeto na consciência. Isso é no que consiste a vida da maioria das pessoas: objetos surgindo continuamente na consciência, o que chamo de “objetos da consciência”. E isso é o que a maioria das pessoas conhece. Elas também se conhecem como um objeto nas suas consciências, têm uma imagem e certas opiniões a respeito de quem são. Relacionam-se consigo como um objeto mental. Objetos de consciência precisam ser balanceados por espaços na consciência para um retorno da sanidade no nosso planeta e para que a humanidade cumpra seu destino. Esse surgimento de espaço na consciência é o próximo estágio da evolução humana. Espaço na consciência significa estar consciente das coisas que sempre chegam, como percepção, pensamentos e emoções. Conscientização significa que você não está só consciente das coisas, mas você também está consciente de estar consciente. Por exemplo, quando você olhar uma flor, tente sentir a si mesmo como uma presença que está olhando.
São duas dimensões: consciente de estar consciente e consciente do que está olhando. A verdadeira paz surge dessa consciência. Mas observar não pode ser confundido com julgar. Não há julgamento. É claro como um espelho. A consciência pode dissolver antigos padrões, pois consciência e vícios não conseguem coexistir por muito tempo. É uma prática contínua, mas não espere tornar-se perfeito. O primordial em sua vida não é algo externo. O que é primordial é seu estado interior de consciência. Você pode ter as melhores riquezas, se está ansioso ou tem medo e negatividade, nada é pior do que isso. Somente quando está em um estado interior de presença, se pode adequar as situações externas. E o preço a pagar por isso é deixar passar a falsa ideia que tem de si. Qualquer situação que surgir na sua vida, antes de chamá-la de boa ou ruim, antes de julgá-la, lembre-se “isso também vai passar”. Vivemos em um mundo que as coisas passam continuamente. Os budistas chamam isso de impermanência. É uma das profundas verdades do Buda. A inabilidade para deixar passar situações ou pessoas traz sofrimento. Não se prenda. Se não se prende significa que não tem medo de perder. Uma vez que vê e aceita a transitoriedade de todas as coisas e como a mudança é inevitável, você pode aproveitar os prazeres do mundo enquanto eles duram, sem medo de perder ou ansiedade a respeito do futuro.
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Uma nova terra
A expansão e contração estão refletidas em todo o universo de diversas maneiras como a incessante expansão e contração do coração, a inspiração e a expiração. Esses dois movimentos - sair e retornar - também estão em ciclos na vida. Do nada você apareceu no mundo. O nascimento é seguido da expansão psicológica, idade, conhecimento, atividades, posses. É um tempo em que você está concentrado em encontrar ou perseguir seu propósito exterior. Cada vida representa um mundo, um único caminho em que o Universo se experimenta. Isso nos tira da ilusão de que tudo é apenas essa pequena pessoa limitada. Você é o universo, a vida. Construímos a vida, adquirimos experiências, conhecimento, posses, a esfera de influências se estende. Usualmente isso dura até certa idade. Então, quando chegamos a uma certa idade, de repente, se inicia um movimento diferente, percebemos que o corpo não é tão duradouro, nem tão forte, pessoas ao redor morrem. É o que podemos chamar de dissolução da forma. Temos medo disso, e não apenas medo, mas um desdém, fazemos de tudo para permanecer jovens.
Mas quando a forma com a qual se identificava começa a desmoronar, é momento de voltar para si, retornar à espiritualidade, despertar para a própria consciência. E não é preciso envelhecer para dar início a esse processo. Nossa civilização ainda está só interessada no movimento exterior, sabemos pouco sobre o movimento de volta para si. A dimensão da profundidade, do espírito, está perdida, então nossas vidas tornaram-se superficiais, gerando infelicidade. Se você não está alinhado com o momento presente, consigo mesmo, com a vida, torna-se completamente disfuncional e gera desarmonia psicológica ao redor de si, se faz infeliz. A infelicidade se espalha como uma doença. O alinhamento dos seus propósitos interior e exterior é chamado de “fazer consciente”. É o próximo estágio da evolução da consciência no nosso planeta.
Três estágios do “fazer consciente”: aceitação, satisfação e entusiasmo. Você precisa estar vigilante para ter certeza que uma delas opera quando está fazendo algo, da mais simples à mais complexa atividade. Muitos estão em desarmonia, pois não aceitam, satisfazem-se ou entusiasmam-se com o que fazem.
Uma nova espécie está chegando ao planeta. Está chegando agora e nós somos essa espécie. É uma enorme mudança na consciência o que está acontecendo. Há um pequeno poema de Hafiz que é um resumo do décimo capítulo: “Eu sou um buraco na flauta pelo qual passa o sopro de Cristo. Ouça a música”. Eu não sou a flauta. “Eu sou o buraco pelo qual passa o sopro de Cristo”. A respiração de Deus se move por mim. Ouça a música.
in Revista Bem-Estar+++
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