Chama-se “Um Vazio no Tempo” e é do próprio Raul Solnado. O texto marcou presença no seu funeral, e revela uma experiência intimista, durante a Expo 98, em que o artista reflecte a sua relação com Deus.
Aqui fica na íntegra:
“Numa das últmas vezes que estive na Expo de Lisboa, descobri estranhamente uma pequena sala completamente despojada, apenas com meia dúzia de bancos corridos. Nada mais tinha. Não existia qualquer sinal religioso e por essa razão pensei que tinha descoberto que aquele espaço se tratava de um templo grandioso.
“Quase como um espanto, senti uma sensação que nunca sentira antes e, de repente, uma enorme vontade de rezar não sei a quê ou a quem. Fechei os olhos, apertei as mãos, entrelacei os dedos e comecei a pensar uma emoção rara, um silêncio absoluto e tudo o que pensava só podia ser trazido por um Deus que ali deveria viver e que me ia envolvendo no meu corpo amolecido. O meu pensamento aquietou-se naquele pasmo deslumbrante, naquela serenidade, naquela paz.
“Quando os meus olhos se abriram, aquele meu Deus tinha desaparecido em qualquer canto que só ele conhece, um canto que nunca ninguém conheceu, e quando saí daquela porta, corri para a beira do Tejo para dar um berro de gratidão com a minha alma e sorri para o Universo.
“Aquela vírgula no tempo, foi o mais belo minuto de silêncio que iluminou a minha vida, que me fez reencontrar, e que me deu a esperança de que num tempo que seja breve, me volte a acontecer.
“Que esse Deus assim queira.”
Aqui fica na íntegra:
“Numa das últmas vezes que estive na Expo de Lisboa, descobri estranhamente uma pequena sala completamente despojada, apenas com meia dúzia de bancos corridos. Nada mais tinha. Não existia qualquer sinal religioso e por essa razão pensei que tinha descoberto que aquele espaço se tratava de um templo grandioso.
“Quase como um espanto, senti uma sensação que nunca sentira antes e, de repente, uma enorme vontade de rezar não sei a quê ou a quem. Fechei os olhos, apertei as mãos, entrelacei os dedos e comecei a pensar uma emoção rara, um silêncio absoluto e tudo o que pensava só podia ser trazido por um Deus que ali deveria viver e que me ia envolvendo no meu corpo amolecido. O meu pensamento aquietou-se naquele pasmo deslumbrante, naquela serenidade, naquela paz.
“Quando os meus olhos se abriram, aquele meu Deus tinha desaparecido em qualquer canto que só ele conhece, um canto que nunca ninguém conheceu, e quando saí daquela porta, corri para a beira do Tejo para dar um berro de gratidão com a minha alma e sorri para o Universo.
“Aquela vírgula no tempo, foi o mais belo minuto de silêncio que iluminou a minha vida, que me fez reencontrar, e que me deu a esperança de que num tempo que seja breve, me volte a acontecer.
“Que esse Deus assim queira.”
Obrigado por tudo, Raúl!
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