Hoje poderia ser um dia sem noite.
Dia para não passar à frente do outro.
Dia para dar espaço ao que se sente desconfortável.
Dia para não se armar “em chico esperto”.
Dia para não atirar a “beata” do cigarro para o chão 
   e de não cuspir nos passeios.
Dia para não atirar a prata do chocolate, 
   ou o recibo do supermercado para o chão 
   ou pela janela do carro.
Dia para não sacudirmos os tapetes 
   nas varandas dos vizinhos, 
   não batermos a porta com força a altas horas 
   ou abrirmos em toda a potência 
   os amplificadores de som.
Dia para pegar no carro calmamente, 
   sinalizar devidamente as nossas manobras 
   e saudar os que cruzamos na estrada.
Dia para pensarmos que não somos donos de nada; 
   que temos ao nosso dispor bens para usar 
   e que não há bem privado 
   que não comporte uma exigência pública e solidária.
Dia para perceber que não somos melhores 
   do que ninguém, 
   nem pelo que temos, nem pelo que parecemos. 
Dia para arrumar de vez com a fantasia 
   de que temos poder sobre os outros 
   e que eles nos devem atenção, distinção, anuência.
Hoje poderia ser um dia sem noite; 
um dia verdadeiramente dia. 
Um bom dia.
Isabel Varanda
Oração da Manhã - 10 de Novembro
 
 
 
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