sexta-feira, 16 de setembro de 2022

O luto das pessoas que nunca existiram

O luto mais importante? O das pessoas que nunca existiram.


Por exemplo, o pai e a mãe idealizados. Ou o pai e a mãe demonizados.


O parceiro amoroso: idealizado ou demonizado. O filho ou filha: idealizado ou demonizado. O chefe, o superior, o mestre, o terapeuta: idealizado ou demonizado.


Por muitas e variadas razões, enviesamos, distorcemos, exageramos a imagem que temos das pessoas - e isso é particularmente relevante quando elas são, para nós, as pessoas mais importantes do mundo. 


Idealização ou demonização são ambas produtos da nossa imaginação. Então, na medida em que idealizamos ou demonizamos, assim nos afastamos da pessoa real com quem convivemos - tenha ela feito parte do passado ou ainda faça parte da vida presente. 


Se nos afastamos da pessoa real, se nos relacionamos com uma caricatura dela - seja ela benevolente ou malevolente - então perdemos a possibilidade do verdadeiro encontro, diálogo, confronto e intimidade. Isso impede-nos de fazer o discernimento adequado sobre a relação e de tomar decisões justas, adequadas, conscientes. 


Sem nos apercebermos - e mesmo com muita proximidade física - podemos ter perdido a relação! Na verdade, não sabemos onde o outro está, o que sente, o que pensa, o que sonha, e, no limite, quem o outro é, realmente. 


Isso pode pedir um luto em vida ou depois da morte da pessoa. Um luto que não o da perda da relação mas o da perda da imagem que criámos.


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fonte: Ver para além do olhar

Ver para além do olhar


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