Tenho dois amigos, um é o José Tolentino Mendonça e outro o [frei] Bento Domingues – nunca conheci ninguém tão alegre como eles – e sempre que os encontro peço-lhes para não se esquecerem de rezar por mim. Digo-lhes: não sei se Deus me ouve, mas a vós escuta de certeza. Eu dizia: Ó Bento, se eu morrer o que faço? E ele respondia: "Continuas a escrever. Descansa que te vão ler e que vais encontrar temas." É um homem admirável, sem vaidade, generoso e humilde, ele que até aos 12 anos andava atrás das cabras no Minho e só depois de um dominicano ter ido dizer a missa à sua aldeia é que descobriu que queria ser como o frade e foi para o seminário. Uma vez perguntei-lhe: Está sempre assim feliz? E e ele, numa surpresa genuína, disse-me: "O que posso ser senão feliz." O Zé Tolentino e eu tivemos uma conversa pública e entrámos de mão dada no palco – é bom estar de mão dada com um homem num sítio onde estão tantas mulheres... O Eugénio de Andrade disse-me uma vez: "Estou cheio de inveja do Hermínio [Monteiro], ele morreu de mão dada com o Tolentino." Isto foi dito por um homem duro, distante e que morreu sozinho...
© ANTÓNIO LOBO ANTUNES | The Dancing Words
outra fonte: Arlinda Ferreira