Não tem importância se é no contato extraterrestre;
Não tem importância se é na conexão com elementais;
Nem mesmo importa se é no alinhamento com os mestres;
O que importa é a morada do Coração!
Os Filhos buscam muitos caminhos, olham muito pra fora, querem saber demais, mas esquecem do simples, da humildade.
O fascínio pelo saber é inimigo da sabedoria. Conhecimento exacerbado não quer dizer mestria.
Dentro ou fora de religião, somente Amor.
Enquanto o Ser humano não compreender que o caminho espiritual é para torná-lo mais feliz, então, o caminho espiritual continua sendo, não um valor, mas uma doutrina que aprisiona.
Que as pessoas possam saber, finalmente, que a Luz vem de dentro e não de fora.
Que você possa saber, que o Amor é a bênção que aflora
Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.
Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.
Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.
Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.
~José Carlos Ary dos Santos fonte: António Galopim de Carvalho
O importante, disse-o um dia a alguém que me pedia conselho, é ser-se o que se é
e tornar-se contagioso. A primeira responsabilidade que nos assiste é saber o
que se é: continuo convencido de que todos nós nascemos com uma partitura na
cabeça. Depois, tantas vezes, ou porque nos faltou mestre de música, ou porque
não encontramos piano à mão, vamos-nos entretendo a tocar coisas que não são da
nossa partitura. Há então que fazer o esforço, individual ou colectivo, de achar
o mestre e o piano que a partitura exige. Conseguido isso, devemos tornar-nos
contagiosos.
Enquanto nas ruas de Budapeste o país é agitado por manifestações revolucionárias, no âmbito de uma paróquia desenvolve-se um dos mais belos episódios da resistência húngara ao regime ateu.
Nele transparece todo o vigor da alma católica do povo magiar (húngaro), modelado ao longo de mil anos por uma incontável falange de santos. Uma frágil criança enfrenta com firmeza a perseguição contra sua fé infantil, mas já inquebrantável, e assim aniquila o adversário.
O maravilhoso milagre que a seguir vamos narrar, aconteceu em 1956. Transmitiu-o o próprio pároco, padre Norberto, um dos últimos fugitivos dos perseguidores da Igreja que atearam fogo para queimar a seiva ardente das almas cheias de fé, dessa sofrida nação.
Perseguição ideológica
A professora Gertrudes, ateia militante, ensinava na escola da paróquia, a serviço do governo ateu. Todas as suas lições giravam em torno da impiedade e da negação de Deus, pois essa era a sua missão. Tudo lhe servia para difamar e ridicularizar a Igreja Católica.
O seu programa de ensino era simples: arrancar a fé da alma das crianças e assim formar legiões de pequeninos “sem Deus”.
As crianças, mesmo intimidadas, não se deixavam convencer com as troças (zombarias) da mestra. Coisa curiosa:
Gertrudes parecia adivinhar quais as alunas que tinham comungado naquele dia, e eram as que mais perseguia. Uma tarde, a menina Ângela de 10 anos, procurou o padre Norberto, pedindo licença para comungar diariamente. Muito inteligente e bem dotada, era a melhor aluna da classe e da escola. O sacerdote mostrou-lhe os riscos a que se expunha, mas ela insistiu:
“– O senhor padre disse-me que eu devo dar bons exemplos na sala de aula e na escola. E para os dar, preciso de sentir-me forte na fé. Asseguro-lhe que a professora não conseguirá apanhar-me em erro ou em dúvidas. Nos dias em que comungo, sinto-me mais fortalecida. E assim saberei como conduzir-me quando ela caçoar da Igreja. Por favor, não me recuse o que lhe peço, senhor Padre.”
O Padre Norberto então acedeu. E desde esse dia, Ângela passou a viver um verdadeiro inferno na sala de aula. Apesar de saber sempre as lições, qualquer coisa era pretexto para a mestra implicar com ela. A criança resistia, mas ficava abatida, a olhos vistos.
Batalha da Fé
A partir de novembro, as aulas passaram ser autênticos duelos, entre essa mulher ateia e a pequena discípula. Aparentemente, a mestra triunfava e dizia sempre a última palavra. Todavia, a sua irritação era tão grande que até o silêncio de Ângela a punha fora de si. Apavoradas, as outras crianças pediam socorro ao padre Norberto, que nada podia fazer.
—“Graças a Deus – lembra ele – Ângela continuava firme na sua fé, e a nós restava rezar, e rezar com absoluta confiança na Misericórdia Divina.”.
Pouco antes do Natal, a 17 de Dezembro, a professora inventou um estratagema cruel, por onde esperava dar um golpe mortal nas “superstições que infestavam” a escola. E preparou a cena com todo cuidado. Naturalmente, a pobre Ângela foi a vítima. A cena merece ser contada por inteiro:
– Vamos, minha menina! Que fazes tu, quando os pais te chamam?
– Vou ter com eles, diz timidamente a criança.
– Muito bem! Tu ouves que eles te chamam e vais imediatamente. Como menina obediente que és. E que acontece, quando os pais chamam o limpa-chaminés?
– Ele vem, diz Ângela.
Montando a armadilha
O seu pobre coraçãozinho bate aceleradamente: adivinha uma armadilha, mas não compreende em que irá consistir. Gertrudes vai mais adiante. “Os seus olhos ardiam como possuídos pelo fogo, como os de um gato, quando se atira a um rato”, contou uma das suas amiguinhas. Tinha má, muito má cara.
– Muito bem, minha menina. O limpa-chaminés vem, porque existe.
Um minuto de silêncio.
– Tu vens, porque existes. Mas suponhamos que os teus pais chamam a tua avó, já falecida. Achas que ela virá?
– Não. Eu não penso isso!
– Bravo! E se eles chamarem o Barba Azul? Ou a Chapeuzinho Vermelho? Ou o Pele de Burro? Gostas de contos? Pois… que se passará, então?
– Ninguém virá, porque são contos.
Tortura psicológica
Ângela levanta os seus transparentes olhos e baixa-os imediatamente. “Os olhos dela faziam-me mal”, disse Ângela, mais tarde, com simplicidade. E o diálogo continua:
– Muito bem, muito bem! Diz, com ar de triunfo, a professora. Acredito que hoje vais compreender tudo bem depressa. Vós vedes, minhas meninas, que os vivos respondem à chamada. E, pelo contrário aqueles que não respondem não vivem ou deixaram de existir. Isto é claro, não é verdade?
– Sim, respondeu a classe em coro.
– Ora, façamos uma pequena experiência.
Voltando-se, depois, para Ângela, diz:
– Sai, minha menina!
A menina hesita. Depois, levanta-se do banco e sai. A porta fecha-se, pesadamente, por detrás da sua figura dócil.
Todas pensavam, a sério, que isto não passava de um jogo! Ângela entra, muito atrapalhada. A professora tenta moderar o prazer que já pressente, em proeza de tanta habilidade.
– Por conseguinte, estamos de acordo: se chamais alguém que existe, ele vem; se chamais alguém que não existe, ele não vem. E não pode, mesmo, vir. Ângela está aqui. Ela ouve. Ela vive. E, quando vós a chamais, ela vem. Suponhamos, agora, que vós chamais o Menino Jesus. Alguém de vós acredita ainda no Menino Jesus?
A cartada final
Faz-se um breve silêncio. Depois, algumas vozes, tímidas, respondem:
– Sim, sim!
– E tu, menina, ainda acreditas que o Menino Jesus ouve, quando tu o chamas?
Ângela, subitamente, sente um alívio: aí estava, então, a armadilha, embora ela ainda não previsse, muito bem, como iria terminar. Com decidido ardor, responde:
– Sim, acredito que Ele ouve.
– Muito bem: vamos, então, fazer a experiência. Agora mesmo, vistes como Ângela entrou, quando a chamastes? Se o Menino Jesus existe, ouve a vossa chamada. Chamai, pois, todas juntas e muito alto: “ VEM, MENINO JESUS”. Uma vez, duas, três, todas juntas!
As meninas baixaram a cabeça. No silêncio, pesado e triste, estala um riso malicioso:
– Aí está, onde eu queria levar-vos! Aí está a minha prova! Não ousais chamá-lo, porque sabeis muito bem que ele não virá, esse vosso Menino Jesus! E se ele vos não ouve, é porque não existe, como não existem o “Pele de Burro”, e o “Barba Azul”. É porque ele é somente uma fábula ou história. E ninguém leva isso a sério, porque não é verdade.
Unidade na oração
As meninas, perplexas, ficaram caladas. Esta brutal, e aparentemente sólida prova, era um verdadeiro golpe, rasgado no seu coração.
É preciso nada compreender da psicologia infantil para não apreciar, devidamente, a impressão desses argumentos, que se baseavam numa experiência concreta. Uma após outra – reconheceram-no mais tarde – começaram a duvidar.
E, de fato, se Ele existe, porque não o veem? Ângela estava de pé, pálida como a morte. “Eu temia que ela caísse”, disse uma das suas amigas. A professora, evidentemente, sentia um verdadeiro prazer, pela confusão das crianças. E, por fim, disse num ar triunfante:
– Acabei com o odioso Deus!
De repente, deu-se o imprevisto. Num lance inspirado, Ângela dirigiu-se para o meio da classe. Nos seus olhos que brilhavam, como relâmpago, gritou:
—“Meninas, vamos chamar o Menino Jesus. Vamos gritar todas juntas: “VEM, MENINO JESUS!”.
Num instante todas se puseram de pé e, pondo as mãos em prece, com o coração repleto de esperança, começara gritar: “VEM, MENINO JESUS”.
A professora não esperava esta súbita reação infantil. Retirou-se instintivamente, sem afastar os olhos de Ângela. Primeiro, um minuto de silêncio, pesado como a agonia. Depois, uma vozinha pura diz de novo:
– Mais uma vez!
Foi um grito que “faria cair os muros”, contou uma das garotinhas. Medo, impaciência, dúvida por um tempo vencida, mas pronta a renascer, sentido de solidariedade, provocado, pelo ardor de uma delas, que se impunha como chefe – tudo ali era evidente menos a mais pequena hipótese de um milagre.
“Eu chamei, mas não esperava nada de especial”, confessou Gisela. Mas foi nesse preciso momento que chegou a resposta do Céu. Eis como a contaram as meninas.
O Milagre
Elas não olhavam para a porta, mas para a parede, adiante delas; e, nesse fundo branco, para a cara de Ângela. Mas, de repente, a porta abriu-se silenciosamente.
“Toda a luz do dia, como se dirigia para lá. Essa luz tornou-se cada vez mais forte e tomou a forma de um globo cheio de luz”.
E, nesse momento, “ficaram com medo” mas esse medo durou tão pouco, que “nem tiveram tempo para gritar”. O globo abriu-se e apareceu, nele, uma Criança “encantadora como nós ainda nunca tínhamos visto”. A Criança sorriu-lhes, sem lhes dizer nada. A Sua presença “era de infinita doçura”.
As crianças já não tinham medo. “Só sentíamos alegria”. Isto durou… um minuto, um quarto de hora, uma hora? A respeito do tempo, os testemunhos são divergentes (sabemos quanto, em fenômenos de ordem sobrenatural perde, mortalmente, a noção do tempo).
Em todo o caso, a aparição não durou mais do que o tempo de uma aula. A Criança “estava vestida de branco e parecia um pequeno sol”. Dela “saía uma luz”. “A luz do dia parecia escura comparada com ela”. Algumas meninas ficaram deslumbradas: “fazia mal aos olhos”.
Outras olhavam para o Menino Jesus, sem preocupação alguma. Ele não disse nada “apenas sorria”, e escondeu-Se no globo brilhante que se fechou de mansinho, “pouco a pouco, desapareceu”, pela porta, que também se fechou sem que ninguém lhe tocasse.
As crianças olhavam ainda para a porta. Em verdadeiro êxtase, com o coração “a transbordar de alegria”, as meninas não conseguiram pronunciar sequer uma palavra.
Bem Aventurados os que creram
De repente, um grito feroz rompeu o silêncio. Completamente aterrada, atordoada, “com os olhos fora das órbitas”, com os braços erguidos e mãos na cabeça, a professora começou a clamar em altos gritos: “Ele veio! Ele veio! Ele existe”. E, batendo com a porta “fugiu”, corredor fora.
Ângela parecia ter despertado. Disse apenas: “vistes todas? Ele existe. E agora vamos agradecer-Lhe”. Todas as meninas, docilmente, se ajoelharam e recitaram o “Pai Nosso”, a “Ave Maria” e o “Glória ao Pai”. Depois saíram da classe, pois, havia tocado a campainha para o recreio.
Quanto à professora Gertrudes, internaram-na numa casa de loucos. As autoridades abafaram o caso. Parece que não cessa de gritar: “Ele veio! Ele veio!”. Note-se que há lá não poucos “casos” de loucura por motivo de religião. Os profanadores das nossas igrejas acabam quase todos na loucura.
Quanto à Ângela, terminou a escola e passou a ajudar a mãe. Na altura deste acontecimento, ela é a mais velha de uma família numerosa.
As diferenças são uma fonte de problemas na vida humana.
Em qualquer condição, tentemos encontrar parecenças ou semelhanças com aquilo que encontramos. Se nos focarmos apenas nas diferenças, surgirão preconceitos e pensamentos negativos.
Se formos capazes de ver as semelhanças que temos com outras pessoas, seremos capazes de tolerarmos e respeitarmo-nos uns aos outros.
I suddenly saw that all the time it was not I who had been seeking God, but God who had been seeking me. I had made myself the centre of my own existence and had my back turned to God.
Queridos irmãs e irmãos, no final da celebração do mistério do Natal, temos a Festa da Epifania. O nascimento de Jesus, o Deus connosco, tem de resplandecer e cada um de nós é testemunha, cada um de nós que está aqui é um implicado nesse nascimento, e é chamado a transportar essa boa nova, essa alegria, essa possibilidade de encontro a todas as mulheres e a todos os homens. Nós não vivemos o mistério em função de nós próprios, da nossa auto referencialidade, da nossa auto preservação, mas nós vivemos este mistério em Deus que é amor, que tem um coração onde todos cabem. E por isso, na nossa maneira de olhar, na nossa maneira de estar, nas escolhas que fazemos, na construção do mundo que efectivamos, temos de ter isso em conta – a universalidade. Porque este Menino que nasceu ensina-nos a nascer.
Nós, dentro de dias, começamos a arrumar os presépios dentro dos sacos, dentro das caixas, mas é importante que não arrumemos o espírito do presépio porque Jesus já nasceu há dois mil anos. Quem precisa de nascer hoje somos nós. Somos nós.
Regressei agora do teu velório. Foi uma das cerimónias de despedida mais lindas a que assisti até hoje e para mim foi a demonstração da Alma linda que tu és. Obrigado por tudo o que me deste, que me ensinaste, pela tua Alegria, pelo teu exemplo de vida e muito particularmente pela tua atenção, disponibilidade e entrega na altura do nascimento da Clara. São atitudes e gestos como aqueles que tiveste que fazem toda a diferença, que nos ajudam a não desistir, que nos animam e por isso é que te rodeaste de tantas pessoas que te amavam. Foi por isso que esta noite foi tão bela, tão recheada de Amor, do Amor que tu viveste, do Amor que deste, do Amor que tu És.
Dizem que houve um quarto rei mago que também viu a estrela brilhar e decidiu segui-la. Como presente, pensou em oferecer ao menino um baú cheio de pérolas preciosas.
No entanto, em seu caminho, ele encontrou várias pessoas que estavam pedindo sua ajuda.
O rei mago os auxiliou com alegria e diligência e doou uma pérola a cada uma dessas pessoas. Ele encontrou muitos pobres, doentes, aprisionados e miseráveis e não podia deixá-los sem ajuda. Ficou o tempo necessário para aliviar a dor de todos eles, depois partiu. Mas novamente encontrava outro desamparado pelo caminho. O rei tinha um coração nobre e bom e, mesmo ficando atrasado para chegar até o menininho, parava sua viagem e socorria todos os que dele necessitavam. Ao partir entregava sempre uma de suas pérolas preciosas…
A estrela guia brilhava luminosa no alto céu noturno e o rei pôde segui-la com confiança.
Aconteceu que, quando finalmente chegou a Belém, os outros reis magos já não estavam mais lá. José, Maria e o menino Jesus também não estavam na casa indicada pela estrela-guia que agora brilhava cada vez mais suave até desaparecer no céu infinito. Os pais do menininho haviam recebido a visita dos anjos celestes a anunciar: “José, Maria, peguem o menino divino e fujam para as distantes terras do Egito. Herodes, o rei caído nas sombras, quer matar o menininho”. Eles imediatamente haviam se colocado a caminho.
O quarto rei mago decidiu, mesmo sem ter a estrela guia no céu, continuar sua busca até encontrar a criança divina. Ele sentia que a estrela brilhava também em seu coração e de lá ela o conduziria.
Ele procurou e procurou e procurou… e dizem que ele passou mais de trinta anos viajando pela terra, procurando a criança e ajudando os necessitados. Até que um dia chegou a Jerusalém justamente no momento em que o Cristo era crucificado. Conseguiu perceber, ao redor dele, o mesmo brilho da estrela que o guiara primeiro do céu e depois de dentro de seu coração. Eis a criança que ele havia procurado por tanto tempo.
A tristeza encheu seu coração, já velho e cansado pelo tempo. Embora ainda guardasse uma pérola na bolsa, era tarde demais para oferecê-la à criança que, agora, transformada em homem, pendia de uma cruz. Ele havia falhado em sua missão. E sem ter mais para onde ir, ficou em Jerusalém para esperar a morte chegar.
Apenas três dias se passaram quando uma luz, ainda mais brilhante do que mil estrelas, encheu seu quarto. O Ressuscitado veio ao seu encontro! O rei mago, caindo de joelhos diante dele, pegou a pérola que restava e estendeu-a a Jesus Cristo que a segurou e carinhosamente disse: “Você não falhou em sua missão. Pelo contrário, você me encontrou por toda a sua vida. Eu estava nu e você me vestiu. Eu estava com fome e você me deu comida. Eu estava com sede e você me deu de beber. Eu fui preso e você me visitou. Eu estava em todas as pessoas pobres que você ajudou no seu caminho. Muito obrigado por tantos presentes de amor! Agora você estará comigo para sempre, porque o céu é a sua recompensa”.
Hoje almocei com a minha mãe e a Catarina no Chinês. Estranhei mas foi a minha mãe que nos convidou quando habitualmente temos de ser nós a insistir para que ela saia… Mais tarde confirmou-se que algo mais estranho se passou na mente da minha mãe. Na sua mente o meu pai voltou à vida!
-Onde está o teu pai?
-Mã, o pá faleceu há quase 5 anos…
Tive de mostrar à minha mãe fotos do epitáfio, ler-lhe uma carta que lhe escrevi um mês antes da sua partida, recordar toda aquela dor, abraçarmo-nos na recordação dessa dor. Hoje vou dormir aqui, a fazer companhia à minha mãe.
Bento XVI morreu e o seu corpo está a ser velado no Vaticano. Milhares de fiéis esperaram horas para poder oferecer a sua homenagem ao “guardião da fé”.
Bento XVI surpreendeu-me.
E merece ser aplaudido por algumas das marcas que nos deixou: a começar pelo modo como abdicou de todo o poder, o primeiro que o fez nos últimos 600 anos na Igreja Católica.
Não é coisa pouca.
Um homem que abdica do poder, um homem que percebe que já não o poder exercer, um homem que o consegue apesar de todas as pressões que deve ter sofrido dos seus mais próximos, dos que com ele perderiam regalias e estatuto, é tudo menos um pormenor.
2.
Bento XVI era um intelectual.
Um homem que pensava.
Que lia e escrevia.
Um homem que falava várias línguas, que lia diretamente do hebraico, que gostava e precisava de longos retiros para se sentir ele próprio.
Um intelectual tem dificuldades muito particulares no exercício do poder. E quando o exercício do poder significa uma influência direta em relação à vida de milhões de pessoas, a coisa piora. Não é fácil encontrar um intelectual que não tenha dificuldades na tomada de posição, regra geral quando assume o poder tenta que a sua natureza não seja prevalecente em relação ao desígnio da ação – na maior parte dos casos não dá bom resultado.
Bento XVI conseguiu deixar uma marca importante.
E talvez de uma forma inadvertida abriu espaço para Francisco, um líder completamente diferente.
3.
Li com enorme prazer a biografia que escreveu sobre Jesus Cristo.
Extraordinário contributo para a compreensão, sem ortodoxias da figura do filho de José e Maria, do “filho de Deus” para tantos de nós. Para mim também, apesar de não ser religioso, para mim também.
Esta introdução para reforçar a força e o interesse da última frase que saiu da boca de Bento XVI antes de partir.
Um enfermeiro de turno, o último que viu o Papa Emérito vivo, escutou as palavras e passou-as ao mundo. Bento XVI terá dito em italiano, “Senhor, eu amo-te”.
4.
Uma frase importante que me fez pensar esta manhã.
Uma última frase que, tendo acontecido ou não, ficará para a história.
Mas que diz um pouco sobre o muito que devemos refletir para que a nossa passagem por aqui – a minha e a tua – possa ser virtuosa.
Estou há muitos anos convencido de que o mais importante não é amarmos uma ideia de transcendência. Apesar de acreditar em Deus não faz sentido estar todos os dias inclinado perante o silêncio quando a relação com o que me transcende só pode ser alimentada por aquilo que eu fizer aqui.
Dizer que amo Deus antes de partir é muito bonito e importante, não o nego.
Mas muito mais importante é a capacidade de sermos todos os dias pessoas inteiras.
De sermos gente que acredita que o caminho se faz aqui, que o combate contra as iniquidades, contra a miséria humana, contra as injustiças se faz aqui.
Essa é a batalha, termos a capacidade de dizer que amamos a vida, esta que temos e não qualquer outra que exista fora de nós.
Que amamos a possibilidade de podermos ser o que sonhamos. De podermos ganhar sem atropelar a pessoa ao lado. De podemos escrever e ler livros, ver peças de teatros e filmes, imaginar caminhos nunca caminhados, responder a perguntas nunca respondidas ou simplesmente fazer o melhor possível.
Estar à altura do que a vida nos propõe.
Mesmo que a nossa vida seja estreita ou que a julguemos estreita, temos de fazer o melhor possível com o que somos, com o que herdámos.
Acredito em Deus, mas no final da minha vida diria “amei cada minuto que aqui passei, cada possibilidade que tive de ser melhor, de fazer melhor, cada falhanço também”.
Porque o meu Deus, como já escrevi num livro a que chamei “Amor”
“… Não tem voz grossa, tem a que imagino. O meu Deus não me castiga, oferece-me liberdade. O Meu Deus não me chantageia, acredita na responsabilidade. O meu Deus não me corta o desejo, recomenda-me uma canção. O meu Deus dança comigo quando danço sem par. O meu Deus tem humor, escuto-o e sei do que falo. O meu Deus está aqui, se me virar rápido ainda o vejo. O meu Deus é um pressentimento, uma promessa, é o bem e o mal, sou eu nos piores dias. É esperança e virtude. O meu Deus acredita em mim”.
Foi isso que escrevi e talvez um dia, quem sabe, o possa discutir com Bento XVI numa qualquer língua que hoje não conheço.