Notas Soltas do Mirante
Tomás Orlando Cardoso
Com a descoberta do negócio da Informação, a verdade deixou de ser importante?
Hoje, somos confrontados com novas e dinâmicas formas de informação e de comunicação nas redes sociais, que aos olhos dos mais antigos, parecem muito despropositadas. Tratando-se de uma extraordinária ferramenta de comunicação, não deixa de ser muito preocupante, a generalidade do modus operandi e como se identificam muitos comportamentos erráticos nestas novas vivências nas redes sociais.
Não sendo especialista nesta matéria, como parecem existir muitos, a verdade é que os assuntos importantes são desvalorizados, passando a inexistentes ou a temas menores.
Não há dúvida nenhuma que as redes sociais são um barómetro imprescindível e ajudam a deixar a descoberto o que hoje significa o ser humano, que parece perder importância neste Planeta. Faz muita confusão que se emitam opiniões via expresso, como sendo verdadeiras, devidamente estudadas e aprofundadas, repetindo-se lugares-comuns e espalhando-se como se de sabedoria se tratasse.
Se aprofundarmos estes novos comportamentos, analisando os likes (gostos ou simplesmente agrados) ou alguns comentários curtos, sem conteúdo e por vezes muito deselegantes e desadequados, sobre a sua quantidade e qualidade talvez ficássemos como diriam os nossos antepassados, “sem sumo nenhum no copo”.
Concordar por concordar não servirá apenas para descarregar as nossas consciências? Muitas vezes não se tratarão de semiverdades ou de mentiras? Será que só interessam imagens apelativas que quase nos empurram para uma resposta? O poste no café, no banho, ou no ginásio que significado tem? Não serão tantas as pressões que por vezes sentimo-nos incomodados com os nossos silêncios sobre tanta e descoordenada informação, que nos passa debaixo dos dedos, tal rio desgovernado?
Quantos likes e comentários positivos e bem-vindos, sobrarão para os artigos de interesse social e coletivo, profundos, refletidos sobre temas que nos afetam as preocupações diárias? Diria que a percentagem está muito desequilibrada levando-nos a pensar que o nosso trabalho feito nas redes sociais está concluído. Será que hoje o mundo vive à volta de superficialidades e de perguntas sem respostas? Será que muitas delas nem merecem resposta? Será que o mundo real estará cada vez mais distante de nós? O propósito não passará de entretenimentos que nos levam a abstrairmo-nos do mundo real? Estaremos todos nós a contribuir para as soluções dos problemas concretos na sociedade? Estaremos a criar códigos de comunicação, ou seremos nós que não os entendemos? O Like não será o tal ditador de que muitos esperam para atuar? Estará a ser criado, um novo dicionário? Será que o nosso trabalho na sociedade fica feito e a Sociedade já não precisa de nós para outras funções mais nobres e dignas? Qualquer um de nós tem obrigação moral, de com base nas suas experiências, vivências e experiências, em determinada área, as partilhar com os amigos ou até com todos os da sua sociedade para se fortalecerem e enriquecerem em equipa. Não abandonemos os conhecimentos que temos e que existem em cada um de nós nas diversas áreas para as transmitirmos ao coletivo, pela positiva, em vez de gastarmos energias com temas de menor importância que nem sempre enriquecem o comportamento humano necessário para um desenvolvimento social saudável e equilibrado. Além de nos habituarmos a ver o lado bom da vida, devemo-nos esforçar em sermos também o lado bom, aproveitando a descoberta desta nova forma de comunicar e informar de forma positiva sem ser por interesses particulares. Termino com uma preocupação pertinente refletida numa frase de Ryszard Kapuscinski, "quando se descobriu que a informação era um negócio, a verdade deixou de ser importante"
Um bem hajam
Mirante, Ilha do Pico, 15 de Maio de 2022
Publicado Ilha Maior de 27 de Maio de 2022
fonte: facebook Tomás Orlando Cardoso
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