Chora, Chora muito, mas só se tiver que ser
Deixa que o sal das lágrimas te queimem o rosto
e te ardam os olhos, que em dor arderam
Crava as unhas na pele e raspa dela
toda a réstia de memórias de amor
daquelas que te lembram dias perdidos
lânguidas horas perdidas no tempo feito ilusão.
Recolhe-te, já, o quanto antes e chora
Chora tudo de uma vez, que de ti corram rios
águas férteis cristalinas, em que a ti te vês, reinventas
caminhos e rostos, pepitas de ouro de quem tu já foste.
Chora tudo, chora gritos, chora tudo o que já perdeste
Grita choros de saudade, de angustia e agonia
Grita tudo, rasga o peito, abre a carne e deixa arder
o fétido ácido da saudade, que penetra pele e osso
que ganha até profunda raiz, no âmago do teu ser.
Cobre o corpo com cinzas, rasga as vestes, come o chão
trinca areias do deserto, as palavras doces por dizer
Trinca os ossos dessa carne, que antes deste a comer
e chora, chora mares, chora montes e vendavais
Chora rochas e rochedos, avalanches de saudade
deita fora toda a mágoa, deita fora o que não é teu
deita e chora tudo para fora, em que te deites a ti.
Deita-te então ao meu lado, faz abrigo do meu leito
deposita no meu peito, fardos escuros, fardos teus
faço meus os teus pesares, para mim tomo tuas dores
bebo as lágrimas que tu deitas, sugo e inspiro-te em meus beijos
absorvo em mim o teu cansaço, corro os braços no teu corpo
Te embalo e sussurro, lábios quentes no teu dorso
faço juras e prometo "Já passou, tudo passa".
Ruth Collaço
@direitos.
In: Mundos 11
fonte: Ventos Sábios
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