sexta-feira, 29 de maio de 2020

Na hora que acordei


Na hora que acordei.

Esta noite sonhei-te
andavas em passo sereno
discreto, sóbrio, decidido
Sabias para onde ias
e como lá chegar.
Da janela vi-te chegar
antecipei cada gesto da tua entrada
trazias nos olhos aquela luz que é só tua
e nas mãos o tremor de quem quer.
Os lábios, já húmidos e quentes
traziam vontade de falar
a minha língua, a tua língua a nossa língua.
Juntos inventámos poemas
embalámos os nossos corpos em serenatas
aprendemos a ler pautas e subir de escala
cantar baladas
as mais doces do compasso de um sonho.
Percorremos tantas estradas e caminhos
do céu, para o céu e descemos até ao inferno
e era quente, muito quente
cada passo que demos, cada abraço que roubámos.
Deixámos a nossa marca no tempo
e o coração, aos soluços abandonámos
sabendo que mais tarde ou mais cedo
na armadilha do tempo, a realidade nos prenderia.
Mas o tempo era pouco e a saudade era muita
a nossa razão toldada... névoas de paixão
e morríamos, desfalecidos, cansados.
Vínhamos de longe, para longe fugíamos
escalámos montanhas de prazer 
esquecidos, perdidos, rendidos
e os dois fomos um...
apenas num sonho só.
E sem saber o mundo girou
e parou, na hora que acordei!

Ruth Collaço
(Ventus Sapientes)
Direitos de autor reservados

Imagem: Johana Harmon
mural Wise Winds-Ventos Sapientes


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