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sexta-feira, 2 de maio de 2025

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eu tinha quinze anos e o domingo era uma ferida aberta e o teu carro rasgava o mundo e a curva era uma boca de lobo e a imagem partia-se em silêncio e os olhos da multidão não sabiam onde pousar e a televisão não soube mentir e o capacete azul ficou imóvel e a morte sentou-se no cockpit e tu eras mais rápido do que tudo
e mesmo assim foste vencido e o tempo não travou por ti e os homens tentaram parecer calmos e os deuses não disseram nada e o meu corpo tremeu sem motivo e chorei por dentro de um corpo novo e percebi que viver era isto e esperar era uma forma de suicídio e sonhar era perigoso
e tu não tinhas ido à Disney e não ias nunca e era só isso o sonho e era só isso a vida e era só isso o absurdo e tu morreste com esse desejo intacto e ninguém te devolveu o dia certo e todos fingimos que haveria tempo e não há tempo e não há
e a morte não vem como nos filmes e a morte vem como tu vieste e ficaste e não saíste e eu fiquei contigo desde então e a tua curva é agora a minha e a tua ausência acelera dentro de mim e eu corro às cegas e não espero e não espero mais e não espero nunca e não
e

Nota:
Lindo texto,
sem pontuação,
porque, como explica num comentário o autor,
faltam na nossa vida muitas paragens... 🙏