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quinta-feira, 20 de junho de 2024

O poder da delicadeza

 


O PODER DA DELICADEZA
Há 4 anos, Portugal acordava, chocado e triste, com a notícia da morte de um ator que nos habituara ao lado alegre e leve da vida.
Nao me esqueci nunca da resposta da mulher a um dos media: “o P. morreu de suicidio.” Dando, assim, ao suicídio um grau de enfermidade igual ao de um cancro ou de um ataque cardíaco.
Ninguém morre de suícido por fraqueza ou coragem súbitas. Morre-se de suicido porque se sofre de doença prolongada, que cresce silenciosamente e que destrói por completo as células da esperança no Amanhã, no mundo e no eu.
Ninguém tem o poder de salvar alguém. Mas todos temos o poder de não matar. Basta pormos em prática a terapêutica da delicadeza. Para connosco e para com o outro.
Porque todos somos frágeis. E porque todos, como diz a frase do post, estamos numa trincheira, resguardados dos disparos da vida, esperando sair ilesos - e, se possível, felizes - desta grande guerra. Que ninguém se engane! Todos somos “brothers in arms”.
Lembro me que na altura fiz um post sobre a depressão; uma doença de que também sofro - segundo dizem os médicos - mas que se manifesta apenas sob a forma de não fechar gavetas ou de chamar o Uber Eats quando chega a hora de ir para o fogão.
🙃
Mas recebi tantos telefonemas que acabei por apagá-lo. Há que não confundir “1 em cada 10” com “1 em cada 10.000”. A diferença é gigantesca. Eu sou a norma.
Lembro-me também de dizer que a melhor forma de percebemos que a vida é uma luta para todos é quando encontramos alguém que nos diz “Eu”. Quase sempre a nossa resposta é “Eu”, também. Não “Tu” ou “Fala me de ti.” Ouvir “Eu sou Sagitário” recebe quase sempre a resposta: “Eu sou Caranguejo”. “Eu dormi mal.”, arrisca se a um “Eu não durmo há uma semana.” E por aí fora.
E está tudo certo. É a vida a ser vida. A guerra a ser guerra. A batalha a ser travada. Por cada um, na sua individualidade, à qual dificilmente alguém chega. Inclusive o próprio.
Resta nos por isso a arma da delicadeza. A terapêutica da doçura. O elixir do amor.
Que saibamos todos, hoje, e sempre, por cada “Eu” que ouvirmos, respondermos com a mais difícil das delicadezas do mundo atual:
- Fala me de ti.


divulgação: meu mural

domingo, 3 de julho de 2011

Sonhar

Maria Bethânia declamando Fernando Pessoa
e cantando" Sonhar"

vídeo original removido (actualização em 2022.06.23)

Eu tenho uma espécie de dever
que é dever de sonhar
e sonhar sempre
pois sendo mais do que uma
espectadora de mim mesma
eu tenho que ter o melhor
espectáculo que posso
e assim me construo a
ouro e sedas
em salas supostas
invento palco, cenário
para viver o meu sonho
entre luzes brandas
e músicas invisíveis
Fernando Pessoa
fonte: Pensador

Sonhar

Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei
É minha questão
Virar este mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã
Se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim
Seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar
Do impossível chão
Sonho Impossível

Composição: Joe Darion, Mitch Leigh
(versão em português de Chico Buarque)
Fonte: http://letras.terra.com.br/chico-buarque/86054/

Fonte: Zimbórios

2022.06.23
e a versão Walt Disney