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domingo, 21 de junho de 2020

Postal do dia

Pedro Lima ( 1971 - 2020 )
POSTAL DO DIA
Pedro Lima
1.
No dia em que saí do Rádio Clube recebi muitas mensagens, telefonemas e abraços.
“Luís, estou contigo”
“Luís, estamos juntos”
“Luís, para a semana telefono e vamos jantar”
“Luís, não te desampararei”
Luís, isto, aquilo e aqueloutro.
No dia seguinte a mesma coisa.
Na semana seguinte, quase nada.
Um mês depois recebi um telefonema.
Era um homem que eu não conhecia bem. Tínhamo-nos encontrado um par de vezes com amigos comuns, mais nada.
“Olá, Luís… é o Pedro Lima, lembras-te?”
O Pedro queria apenas dizer que estava ali, que gostava da minha escrita, das minhas ideias e que sabia bem o que era estar apenas por sua conta.
2.
No dia em que lancei “Mãe, promete-me que lês”, ele estava lá.
O nosso olhar encontrou-se, senti-o comovido, quase tanto como eu. Era o meu livro, mas era também o seu… um livro de vida e desamparo, um livro que (soube-o depois) representava uma viagem à sua própria experiência e a uma infância e juventude sem a presença da sua mãe.
3.
Pedro Lima morreu hoje.
Não interessa dizer muito mais.
Foi uma das mais generosas pessoas que conheci.
Era também uma das pessoas que mais enganava…
o seu sorriso iluminava o mundo, mas não conseguia acender um caminho de salvação para os seus fantasmas.
A sua presença encantava, mas os seus olhos escapavam-se algumas vezes para um lugar que apenas a ele estava reservado.
4.
Era ator.
Pai de cinco filhos.
Tinha a mesma idade que eu.
Queria muito encontrar um lugar de apaziguamento e houve momentos em que isso quase lhe pareceu ser possível.
“Luís, as coisas estão a correr tão bem! Corre tudo como num sonho. É aproveitar enquanto dura”, escreveu-me numa mensagem em meados de 2016.
5.
Partiu hoje e era muitas outras coisas.
Surfista.
Modelo.
Leitor.
Nadador olímpico.
Curioso do mundo.
E sempre a iluminar-nos no seu sorriso.
Obrigado, Pedro…
E prometo-te uma coisa: daqui a um mês telefono-te… livra-te de não me atenderes.
Luís Osório (1971), jornalista e escritor
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