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domingo, 24 de maio de 2020

As 10 estratégias de manipulação em massa, por Noam Chomsky


Noam Chomsky é um dos intelectuais mais respeitados do mundo. 

Este pensador americano foi considerado 
um dos mais importantes da era contemporânea 
pelo The New York Times. 

Uma das suas principais contribuições foi ter proposto e analisado
as estratégias de manipulação em massa 
que existem no mundo de hoje.

Noam Chomsky é conhecido como linguista 
mas também é filósofo e cientista político. 
Ao mesmo tempo, tornou-se um dos principais activistas 
das causas libertárias
Os seus textos circularam pelo mundo e não param de surpreender os leitores.

Chomsky escreveu um texto didático 
no qual sintetiza as estratégias de manipulação massiva. 

As suas reflexões a respeito disso são profundas e complexas. 
No entanto, para fins didáticos, 
ele resumiu tudo em 10 princípios simples e acessíveis a todos:

1. A distração
Segundo Chomsky, 
a mais recorrente das estratégias de manipulação em massa é a distração. 
Consiste, basicamente, em direcionar a atenção do público 
para temas irrelevantes ou banais. 
Desta forma, eles mantêm as mentes das pessoas ocupadas.
Para distrair as pessoas, enchem-nas de informação. 
Dá-se uma importância excessiva, por exemplo, 
a eventos desportivos. 
Também aos shows, aos programas de TV, etc. 
Isso faz com que as pessoas 
percam de vista quais são os seus reais problemas.

2. Problema-reação-solução
Por vezes o poder, deliberadamente, deixa de atender 
ou atende de forma deficiente a certas realidades. 
Fazem os cidadãos ver isso como um problema 
que exige uma solução externa. 
Eles mesmos propõem uma solução.

Essa é uma das estratégias de manipulação em massa 
para tomar decisões que são impopulares. 
Por exemplo, quando querem privatizar uma empresa pública 
e intencionalmente pioram o seu seu nível de serviço... 
No final, isso justifica a venda.

3. Gradualidade

Esta é outra das estratégias de manipulação em massa 
para introduzir medidas 
que as pessoas normalmente não aceitariam. 
Consiste em aplicá-las pouco a pouco, 
de forma que sejam praticamente imperceptíveis.

Foi o que aconteceu, por exemplo, 
com a redução dos direitos trabalhistas. 
Em diferentes sociedades têm sido implementadas medidas, 
ou formas de trabalho, que acabam fazendo com que o trabalhador 
não tenha nenhuma garantia de segurança social.

4. Deferir

Esta estratégia consiste em fazer os cidadãos pensarem 
que é tomada uma medida que é temporariamente prejudicial
mas que no futuro pode trazer grandes benefícios 
para toda a sociedade e, é claro, para os indivíduos.

O objetivo é que as pessoas se acostumem com a medida 
e não a rejeitem, pensando no suposto bem 
que ela trará amanhã. 

Chegado o momento, 
o efeito da “normalização” já funcionou 
e as pessoas não protestam 
porque os benefícios prometidos não chegam.

5. Infantilizar o público

Muitas das mensagens na televisão, especialmente de publicidade, 
tendem a falar ao público como se fossem crianças
Usam gestos, palavras e atitudes 
que são conciliadas e impregnadas 
com uma certa aura de ingenuidade.

O objetivo é vencer as resistências das pessoas. 
É uma das estratégias de manipulação em massa 
que busca neutralizar o sentido crítico das pessoas

Os políticos também empregam essas táticas, 
às vezes se mostrando como figuras paternas.

6. Recorrer às emoções

As mensagens que são projetadas a partir do poder 
não têm como objetivo a mente reflexiva das pessoas. 
O que procuram principalmente é gerar emoções 
e atingir o inconsciente dos indivíduos
Por isso, muitas dessas mensagens são cheias de emoção.

O objetivo disso é criar uma espécie de “curto circuito” 
com a área mais racional das pessoas. 
Com emoções, o conteúdo geral da mensagem é capturado, 
não os seus elementos específicos. 
Desta forma, a capacidade crítica é neutralizada.

7. Criar públicos ignorantes

Manter as pessoas na ignorância é um dos propósitos do poder. 
Ignorância significa não dar às pessoas as ferramentas 
para que possam analisar a realidade por si mesmas. 

Contar-lhes os dados anedóticos, 
mas não deixar que conheçam as estruturas internas dos factos.

Manter a ignorância também é não colocar ênfase na educação. 
Promover uma ampla lacuna entre a qualidade da educação privada 
e da educação pública. 
Adormecer a curiosidade pelo conhecimento 
e dar pouco valor aos produtos da inteligência.

8. Promover públicos complacentes
A maioria das modas e tendências não são criadas espontaneamente. 
Quase sempre são induzidas e promovidas a partir de um centro de poder 
que exerce a sua influência para criar ondas maciças de gostos, interesses ou opiniões.

Os meios de comunicação geralmente promovem 
certas modas e tendências, 
a maioria delas em torno de estilos de vida tolos
supérfluos ou até mesmo ridículos. 
Convencem as pessoas de que se comportar 
assim é "o que está na moda".

9. Reforço da auto-culpabilidade

Outra estratégia de manipulação em massa 
é fazer as pessoas acreditarem que elas, 
e somente elas, são culpadas por seus problemas. 
Qualquer coisa negativa que lhes aconteça depende apenas delas mesmas. 
Dessa forma, são levadas a acreditar que o ambiente ao seu redor é perfeito e que, 
se ocorrer uma falha, esta é responsabilidade do indivíduo.

Por isso, as pessoas acabam tentando se encaixar e também se sentem culpadas 
por não obterem muito sucesso. Deslocam a indignação que o sistema poderia provocar 
para uma culpa permanente em si mesmos.

10. Conhecimento profundo do ser humano
Durante as últimas décadas, a ciência conseguiu reunir uma quantidade impressionante 
de conhecimentos sobre a biologia e a psicologia do ser humano. 
No entanto, toda essa informação não está disponível para a maioria das pessoas.

Apenas uma quantidade mínima de informações chega ao público. 
Enquanto isso, as elites dispõem de todo esse conhecimento e o usam conforme a sua conveniência. 
Mais uma vez, fica claro que a ignorância facilita a ação do poder sobre a sociedade.

Todas essas estratégias de manipulação em massa têm como objetivo 
manter o mundo tal como convém para os mais poderosos. 
Bloquear a capacidade crítica e a autonomia da maioria das pessoas. 
No entanto, depende também de nos deixarmos ser passivamente manipulados, 
ou então oferecermos resistência até onde for possível.


outras fontes:
Pensar Contemporâneo