Morrer dormir dormir sonhar
pode não ser mais nada senão verso
ou destino a querer até inverso
quando por minha vez eu lá chegar
poeirinha do céu gota de mar
em constante mudar me vejo imerso
na própria vida em sonho me disperso
e livre no que seja vou entrar
talvez nunca me lembre ter vivido
talvez nunca me pense renascido
mas alma em rio eterno que flui
diferente de todas me afirmando
e num golpe de luz recuperando
o marinheiro e monge que não fui.
Agostinho da Silva, UNS POEMAS DE AGOSTINHO, Ulmeiro, Lisboa, 1997, p. 58.