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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Meditar como Jesus


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Meditar como Jesus
O padre Serafim mostrou-se cada vez mais discreto. Ele sentia os progressos feitos pelo jovem na sua meditação e na sua oração. Ele o surpreendera diversas vezes com o rosto banhado de lágrimas, meditando como Abraão e intercedendo por todos os homens.
“Meu Deus, misericórdia, o que vai ser dos pecadores...?”
Um dia o jovem veio até ele e perguntou:
“Pai, por que o senhor nunca me fala de Jesus? Qual era a sua oração, sua maneira de meditar? Não falamos de outra coisa durante a liturgia e os sermões. Na oração do coração, como nos fala a Filocalia, é o seu nome que devemos invocar. Por que o senhor não me fala nada a respeito?”
O padre Serafim tinha o ar perturbado. Era como se o jovem lhe pedisse algo indecente, como se fosse preciso revelar seu próprio segredo. Quanto maior é a revelação que recebemos, tanto maior deve ser a humildade daquele que a transmite. Sem dúvida, ele não se sentia humilde o suficiente:
“Isso, apenas o Espírito Santo pode ensinar-lhe. Ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai; nem quem é o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.” (Lucas 10, 22).
É preciso que você se torne filho para orar como o filho e manter com Aquele que ele chama de seu Pai e nosso Pai as mesmas relações de intimidade que Ele e isso é obra do Espírito Santo, ele o lembrará de tudo aquilo que Jesus disse. O Evangelho se tornará vivo em você e ele lhe ensinará a orar como é preciso.” O jovem insistiu.
“Diga-me alguma coisa a mais.” O velho sorriu. “Agora, o melhor que eu tenho a fazer é começar a latir. Mas você também tomaria isso por um sinal de santidade. Então, é melhor simplesmente dizer-lhe as coisas.”
Meditar como Jesus recapitula todas as formas de meditação que eu ensinei até agora. Jesus é o homem cósmico. Ele sabia meditar como a montanha, como a papoula, como o oceano, como a pomba. Ele também sabia meditar como Abraão. O coração não tinha limites, ele amava até seus inimigos, seus carrascos:
“Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem”. Ao praticar a hospitalidade para com aqueles que chamamos de doentes e de pecadores, paralíticos, prostitutas, colaboradores... À noite ele se retirava para orar em segredo e aí, ele murmurava como uma criança: “abba”, o que quer dizer “papai”...
Isso pode lhe parecer irrisório, chamar de “papai” o Deus transcendente, infinito, incomparável, que está além de tudo! É quase ridículo e, no entanto, essa é a oração de Jesus e nessa simples palavra, tudo era dito. O céu e a terra tornam-se terrivelmente próximos.
Deus e o homem fazem apenas um. Talvez seja necessário dizer “papai” à noite para compreender isso... Mas hoje em dias essas relações íntimas de um pai e de uma mãe com seus filhos não querem dizer mais nada. Talvez essa seja uma imagem ruim...?
É por essa razão que eu prefiro nada dizer, não utilizar nenhuma imagem e esperar que o Espírito Santo coloque em você os sentimentos e o conhecimento que estavam em Jesus Cristo e que esse “abba” não venha da ponta dos seus lábios mas do fundo do seu coração. Nesse dia, você começará a compreender o que é a oração e a meditação hesicastas.” Agora, vá!
O jovem ficou ainda alguns meses no Monte Athos. A oração de Jesus o conduziu aos abismos, por vezes aos limites de uma certa “loucura”: Não sou mais eu que vivo, é o Cristo que vive em mim” – a exemplo de São Paulo, ele podia dizer essas palavras. Delírio de humildade, de intercessão, de desejo “que todos os homens sejam salvos e alcancem o pleno conhecimento da verdade.” Ele tornou-se Amor, ele tornou-se fogo. A sarça ardente não era mais uma metáfora, mas uma realidade:
“Ele queimava e, no entanto, ele não era consumido.”
Estranhos fenômenos de luz visitavam o seu corpo. Alguns diziam tê-lo visto caminhar sobre a água ou manter-se sentado, imóvel, a trinta centímetros do chão...
Dessa vez, o padre Serafim começou a latir: “Chega! Agora, vá!” e ele pediu que ele deixasse o Monte Athos, que ele voltasse para casa e ali ele veria o que sobrava das suas belas meditações hesicastas!... O jovem partiu. Ele voltou para a França. Acharam que ele tinha emagrecido e não acharam nada de espiritual na sua barba de aspecto sujo e seu ar negligente... Mas a vida da cidade não fez com que ele esquecesse o ensinamento do seu stárets!
Quando ele se sentia muito agitado, sempre sem tempo, ele ia se sentar como uma montanha na varanda de um café. Quando ele sentia em si o orgulho, a vaidade, ele lembrava-se da papoula, “toda flor murcha”, e novamente seu coração voltava-se para a luz que não passa. Quando a tristeza, a raiva, o desgosto invadiam sua alma, ele respirava ao largo, como um oceano, ele tomava fôlego no sopro de Deus, ele invocava seu Nome e murmurava:
“Kyrie eleison...”
Quando ele via o sofrimento dos homens, sua maldade e sua impotência em mudar alguma coisa, ele se lembrava da meditação de Abraão. Quando ele era caluniado, quando diziam coisas infames a seu respeito, ela ficava feliz por meditar com o Cristo... Externamente, ele era um homem como os outros. Ele não procurava ter “ares de santo”...
Ele até esquecera que praticava o método da oração hesicasta, ele simplesmente tentava amar Deus instante após instante e caminhar na Sua Presença...
see http://www.evenementsvoxpopuli.com/
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Jean-Yves Leloup, doutor em Psicologia, Filosofia e Teologia, escritor, conferencista, dominicano e depois padre ortodoxo, oferece através dos seus livros, conferências e seminários um aprofundamento dos textos sagrados, assim como uma abordagem e uma reflexão extremamente ricas sobre a espiritualidade no quotidiano graças à uma formação pluridisciplinar de rara complementaridade. Membro da organização das Tradições Unidas, doutor honoris causa e ciências da Universidade de Colombo (Sri Lanka), Jean-Yves Leloup ensina na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul em diferentes universidades e institutos de pesquisa em antropologia fundamental. É autor de mais de cinqüenta obras, além de ter comentado e traduzido os evangelhos de Tomé, Maria de Magdala, Felipe e João. Ele participa igualmente de vários encontros entre as diversas tradições.
in http://www.jeanyvesleloup.com/br/biographie.php+++
«A oração é a arte pela qual nos unimos à Beleza última da qual as natureza, os corpos e os rostos são o reflexo. Orar é ir do reflexo à luz e voltar da luz venerando-a nos seus reflexos.»
in "A via do peregrino" Jean-Yves Leloup
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