"Talvez tivesse orelhas de burro, mas o Dumbo era um príncipe. Não o príncipe dos elefantes, nem isso seria importante; … mas príncipe aos olhos da mãe, perante quem talvez Dumbo se sentisse culpado pela sua prisão mas, também, a convicção dos felizes (que acreditam em si só porque se sentem reconhecidos e amados), e perante a qual até os elefantes voam.
Um homem (e com os elefantes não será muito diferente) não voam por voar: voa em direcção a alguma coisa que, do seu interior, o faça elevar-se. Eu, se fosse a mãe de Dumbo, sentir-me–ia orgulhoso, não pelo seu voo mas porque lhe confiou argumentos de peso que lhe permitiram transcender-se, tentar encontrar-se e ressurgir.
…
Dumbo só saltou porque se pode sentir, também por dentro, acompanhado. Muitas vezes, fugimos de saltar para alguém ou para alguma coisa dentro de nós, talvez não tanto por aquilo que ela seja, mas porque toda a nossa vida representa um conflito, mais ou menos silencioso, entre o desejo de termos consciência do que é essencial que se viva e o medo das transformações, e da dor, que o reconhecimento disso represente. E, depois de saltar, Dumbo descobriu isso; descobriu que ninguém domina ninguém, quem nos domina por dentro é o medo. E, também, que só quando se fica fechado no sonho, é que "quanto mais alto se sobe, maior é a queda".
fonte: "Más maneiras de sermos bons pais" de Eduardo Sá
Obrigado Cristina!