Neste Dia da Criança, publico um texto que escrevi há quase 4 anos. Curiosamente a Clarinha nasceu cerca de 10 meses depois, em Julho de 2009.
Quero ser criança
Hoje, pela primeira vez que me lembro, vi Jesus em sonho consciente. Fiquei fascinado quando vi claramente a sua expressão em imagens formadas por uma espécie de nuvens. Quando quis identificar o seu rosto com maior detalhe, as nuvens desapareceram lentamente, e apareceu somente um céu azul e limpo, sem nuvens. Lindo! Noutra altura, desta mesma noite, compus um texto, que gostaria muito de ter gravado, porque não me lembro rigorosamente de todas as palavras mas guardei as ideias principais que vou tentar transcrever:
- Vivemos num mundo que não tem espaço para a Criança. Acredito que quando uma criança nasce, tem sempre uma missão e que é sempre uma missão de Paz, de Ensino, de Aprendizagem, de Crescimento, de Partilha, de União, de Ternura, de Alegria, de Vida e Harmonia. No entanto, ela nasce neste nosso mundo imperfeito, neste mundo que ainda vive em guerra e ainda não conseguiu encontrar a Paz. Neste processo, são poucas as pessoas que têm consciência da sua missão. Estas são especialmente abençoadas. Acredito que são as mais coerentes, as mais seguras, aquelas que lideram e arrastam multidões com a sua boa causa. Outros há, grupo no qual me incluo, que desesperadamente procuram identificar a sua missão, pois sabem que precisam desse sentido mas muitas vezes a vida termina sem que o tenham encontrado. Há ainda pessoas que, sem terem consciência da sua missão, nem exaltarem as suas glórias, a cumprem (a sua missão) de forma humilde e exemplar. Incluo neste grupo, pessoas como o meu querido, e já falecido, avô e familiares ainda vivos como a Titi, a Mã, a minha Nocas e os seus pais. A grande maioria das pessoas não sabe, e/ou nem acredita, que tem uma missão. Perde-se no meio das dificuldades da vida, a doença, o abandono, a luxuria, a inveja, a tristeza, a prepotência, a angústia, a frustração, o medo, a mentira e a morte. Mas as crianças, como ensinou Jesus (e particularmente me ajudou a perceber o Sr. Padre Horácio), são os nossos melhores professores.
Hoje foi o dia em que percebi que para descobrir a minha missão, tenho de voltar a ser criança, de recordar os sonhos e a magia que o tempo apagou. No sonho complexo que hoje tive, vi um ser, com um capucho – como um monge, que estava de lado, sem lhe conseguir ver o rosto, numa varanda, ou no cimo de uma escada, de uma estrutura que me pareceu medieval. Queria ver-lhe a cara, por isso brinquei ladrando, como que para lhe chamar a atenção e conseguir ver a sua cara, mas durante esse processo comecei a sentir um medo inexplicável e o latir transformou-se em gritos de terror. Acordei com os meus próprios gritos e um encontrão da Xanoca, a minha querida mulher. Não consigo entender este medo, porque sinto que me identifiquei com esta figura, por isso não deveria ter nada a recear. A figura era pequena, como uma criança, mas muito misteriosa. Sinto que representava algo do meu ser que eu gostava de identificar mas que, simultaneamente, receio encontrar. Aguardemos.
O texto, a que me referi no início, era uma espécie de grito de desespero de uma criança que quer brincar, aprender, descobrir os porquês de tudo mas que é literalmente abafada por uma sociedade que, na melhor das situações, só tem para lhe oferecer obrigações, regras de conduta, rigor, exigência e responsabilidade. Infelizmente, muitas crianças só conhecem fome, guerra, agressão e sofrimento e os seus sorrisos perdem-se no meio das lágrimas que são a única prenda que este nosso mundo tem para lhes dar.
Cada criança que fomos, e podemos ser, é esperança de “Sorriso Eterno”, de nascer de um novo dia, anunciado pelo cantar dum “Galo Vencedor”. Se há Poder na Terra que seja das Crianças e de todos aqueles que as amam.
Manuel Filipe Santos
Salir, 13 de Setembro de 2008
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Interior Castelo de Guimarães ( fonte - Google images ) |