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terça-feira, 13 de agosto de 2024

Sê inteiro

 
Ricardo Reis


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui. 
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és 
No mínimo que fazes. 
Assim em cada lago a lua toda 
Brilha, porque alta vive.

~Ricardo Reis

domingo, 7 de julho de 2024

Presságio (Fernando Pessoa)

 



Datado de 24 de abril de 1928, o poema "Presságio", popularizado como "O amor, quando se revela", é uma composição de Fernando Pessoa. Escrito na fase final da vida do autor, é assinado com o seu nome (ortônimo), ilustrando várias características da sua lírica.

Embora trate um tema tão universal como o amor, Pessoa não faz o elogio do sentimento, algo muito comum na poesia. Pelo contrário, é um desabafo do sujeito lírico acerca da sua dificuldade em estabelecer relações amorosas.

fonte: Cultura Genial


terça-feira, 26 de dezembro de 2023

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Sê inteiro


Para ser grande, sê inteiro: nada

        Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

        No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

        Brilha, porque alta vive.


~Fernando Pessoa


Da Felicidade



sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Amo como o amor ama

Amo como o amor ama.

Não sei razão pra amar-te mais que amar-te.

Que queres que te diga mais que te amo,

Se o que quero dizer-te é que te amo?

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Eu de Fernando Pessoa

 

Sou louco e tenho por memória
Uma longínqua e infiel lembrança
De qualquer dita transitória
Que sonhei ter quando criança.

Depois, malograda trajetória
Do meu destino sem esperança,
Perdi, na névoa da noite inglória
O saber e o ousar da aliança.

Só guardo como um anel pobre
Que a todo o herdado só faz rico
Um frio perdido que me cobre

Como um céu dossel de mendigo,
Na curva inútil em que fico
Da estrada certa que não sigo.

Fernando Pessoa

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Não tenho pressa

Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.

Ninguém anda mais depressa do que as pernas que tem.

Se onde quero estar é longe, não estou lá num momento.


Sim: existo dentro do meu corpo.

Não trago o sol nem a lua na algibeira.

Não quero conquistar mundos porque dormi mal,

Nem almoçar o mundo por causa do estômago.

Indiferente?

Não: filho da terra, que se der um salto, está em falso,

Um momento no ar que não é para nós,

E só contente quando os pés lhe batem outra vez na terra,

Traz! na realidade que não falta!


Não tenho pressa. Pressa de quê?

Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.

Ter pressa é crer que a gente passe adiante das pernas,

Ou que, dando um pulo, salte por cima da sombra.

Não; não tenho pressa.

Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -

Nem um centímetro mais longe.

Toco só aonde toco, não aonde penso.

Só me posso sentar aonde estou.

E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,

Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,

E somos vadios do nosso corpo.

E estamos sempre fora dele porque estamos aqui.


20-6-1929

Alberto Caeiro

~Fernando Pessoa

Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.

Fernando Pessoa




terça-feira, 13 de dezembro de 2022

sempre eu

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.

Mudo, mas não mudo muito.

A cor das flores não é a mesma ao sol

De que quando uma nuvem passa

Ou quando entra a noite

E as flores são cor da sombra.


Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.

Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem para mim:

Se estava virado para a direita,

Voltei-me agora para a esquerda,

Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés —

O mesmo sempre, graças ao céu e à terra

E aos meus olhos e ouvidos atentos

E à minha clara simplicidade de alma...


~~


Alberto Caeiro

In O Guardador de Rebanhos

In Poesia, Assírio & Alvim, ed. Fernando Cabral Martins, Richard Zenith, 2001

via facebook Fernando Pessoa

Fernando Pessoa


sábado, 3 de dezembro de 2022

Uma espécie de oração

[...] Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se na minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não incarna a substância de milhares de vozes, a fome de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha no destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior. Sinto na minha pessoa uma força religiosa, uma espécie de oração, uma semelhança de clamor. [...]


s.d.

Livro do Desassossego. Vol.II. Fernando Pessoa. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1990. 

O Meu Pessoa