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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Angel (Sarah Mclachlan)


Pára, Escuta e Olha - 19 de Abril
Dormimos a correr, levantamo-nos a correr; comemos a correr, trabalhamos a correr, cuidamos dos outros a correr; cuidamos de nós a correr, amamos a correr…, a vida tornou-se uma correria.
Corremos e não sabemos sequer porquê.
Corremos sem sequer percebermos de onde partimos, onde queremos chegar, porque caminho lá chegar e o que fazer durante o caminho.
Corremos, correndo a vida de um dia – maratona de 24 horas. Ficamos esfalfados, exaustos, desidratados e, pior que tudo, no fim da corrida diária, sentimo-nos frustrados: afinal, parece que não saímos do lugar; tudo ficou na mesma. Um dia atrás do outro; noite após noite, corrida após corrida, tudo permanece igual; nada muda.
O estilo de vida que temos, hoje, é fruto das opções que os grandes decisores políticos, culturais, religiosos e cada cidadão e cidadã do mundo foram tomando.
É este o estilo de vida que desejamos para a humanidade? É este estilo de vida que corresponde ao nosso ideal de realização pessoal e comunitária? É este estilo de vida que favorece o desenvolvimento harmonioso dos nossos sobrinhos, dos nossos filhos e dos nossos netos?
É tempo de parar, escutar e olhar de frente a triste imagem de nós próprios. A vida não é um destino, é uma construção. Neste dia que começa proponho-vos um primeiro passo: parar, escutar e olhar para nós, para a nossa vida e para os que passam por nós.
Isabel Varanda (Oração da Manhã - RR)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Este não é o meu céu! (RR)

Durante as últimas 3 semanas vivi numa terra do extremo oriente. Uma terra sem céu, o dia sem sol, a noite sem estrelas. Dizia-me um amigo de lá que ainda se recorda de como era o céu com estrelas. “Quando era adolescente o céu estava azul e de noite ficava estrelado”, dizia com saudade na voz.
Em poucos anos, uma densa bruma de poluição pintou o céu de cinzento e o ar poluído irrita os olhos e a garganta.
Não é bom viver assim.
Um meu colega de trabalho dizia, vezes sem conta: “este não é o meu céu!”. E eu dizia: “Tem razão. Também não é o meu!”
Mal cheguei à minha terra subi a um lugar alto da serra da Cabreira para encher os olhos com o céu azul, para respirar o ar frio e puro, para sentir o vento gélido que faz doer o nariz e para deixar que o olhar se perdesse pelo horizonte fora. O silêncio no cimo da serra encheu-me de paz.
Senti-me tão grata à natureza por ser tão generosa! Senti-me privilegiada por este céu na terra: o meu céu, mas que não me pertence; não é minha propriedade; é, sim, minha responsabilidade. Para que o céu nunca deixe de ser céu. Para que as estrelas continuem a brilhar e a natureza não fique doente, por tanta negligência e tantos maus-tratos e nós pereçamos de tristeza.

Isabel Varanda

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Maria Imaculada dá à luz a Luz (RR)

Deus ama tanto o mundo e as suas criaturas que deseja ser humano, gerado como todos os humanos, no ventre de uma mulher. Desde toda a eternidade, Deus sonha a incarnação da sua Palavra e envia-a ao mundo, para que a Palavra nasça no mundo. A Palavra é o Filho, o ungido, o enviado do céu e humanado na terra.
Uma jovem mulher de Nazaré da Galileia, entrega a sua vida a Deus, em total disponibilidade, em total confiança, para que, através dela, o Filho de Deus possa nascer no mundo. Maria oferece a Deus a sua carne e o seu sangue, a sua humanidade, para que o Filho de Deus cresça no mundo e o mundo cresça com ele.
Maria torna-se a mãe de Deus; excelsa Mãe de Deus; toda pura, toda santa, toda bela, imaculada Senhora, cheia de graça.
Em Maria não há lugar para o pecado porque todos os lugares em si são agraciados por Deus. Ela oferece a Deus todos os lugares em si, sem qualquer reserva, para que a Palavra de Deus encontre em si uma morada de mãe. E a mãe dá à luz o Filho; dá á luz a Luz para que o mundo não mais se perca do caminho para o Alto.
- “Ó Maria concebida sem pecado. Rogai por nós que recorremos a vós”.
Isabel Varanda
Oração da Manhã - Rádio Renascença

sábado, 12 de novembro de 2011

Há dias cheios de noite (RR)

Hoje poderia ser um dia sem noite.
Dia para não passar à frente do outro.
Dia para dar espaço ao que se sente desconfortável.
Dia para não se armar “em chico esperto”.
Dia para não atirar a “beata” do cigarro para o chão
   e de não cuspir nos passeios.

Dia para não atirar a prata do chocolate,
   ou o recibo do supermercado para o chão
   ou pela janela do carro.

Dia para não sacudirmos os tapetes
   nas varandas dos vizinhos,
   não batermos a porta com força a altas horas
   ou abrirmos em toda a potência
   os amplificadores de som.

Dia para pegar no carro calmamente,
   sinalizar devidamente as nossas manobras
   e saudar os que cruzamos na estrada.

Dia para pensarmos que não somos donos de nada;
   que temos ao nosso dispor bens para usar
   e que não há bem privado
   que não comporte uma exigência pública e solidária.

Dia para perceber que não somos melhores
   do que ninguém,
   nem pelo que temos, nem pelo que parecemos.

Dia para arrumar de vez com a fantasia
   de que temos poder sobre os outros
   e que eles nos devem atenção, distinção, anuência.

Hoje poderia ser um dia sem noite;
um dia verdadeiramente dia.

Um bom dia.

Isabel Varanda
Oração da Manhã - 10 de Novembro


sábado, 19 de março de 2011

Na falta... inspira-me Senhor! (Isabel Varanda)

Na falta... inspira-me Senhor!
Quando o meu olhar não conseguir ver as “pisaduras” na alma dos que me rodeiam: provoca o meu olhar, Ó Deus que tudo alcanças.
Quando a crise e o drama social não passar para mim de um tema ou uma questão: derruba-me, Senhor, do pedestal da indiferença, da hipocrisia e do intelectualismo.
Quando os outros me disserem que a noite caiu e as trevas os envolvem, e eu teimar em dizer que o sol brilha: perdoa, Senhor, a minha falta de compaixão e insensibilidade.
Quando na mesa faltar o pão e no corpo faltar a roupa e na carteira faltar um euro para comprar um balão, que o menino pede com o olhar e a mãozinha estendida: ensina-me, Senhor, a aprofundar o sentido de equidade, de justiça, de bem-comum e de “destino universal dos bens”.
Quando os rostos à minha volta se contorcerem em esgares nervosos e angustiados: inspira-me Senhor, a capacidade de olhar, de aproximar, de tocar, de acariciar e de rasgar caminhos de superação e de esperança.
Quando, enfim, o meu olhar estiver doente, os meus braços inertes, os meus sentidos embotados, a minha consciência alienada, pega em mim ao colo, Senhor, porque nada posso nesta agonia e reanima-me com o teu sopro de vida.
Isabel Varanda
in Oração da Manhã
Rádio Renascença
17 de Março de 2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

O emaranhado interior (Oração da Manhã - RR)

O dia a dia, na voracidade dos compromissos, das exigências e obrigações, absorve-nos de tal modo na res publica, que acabamos por atrofiar o espaço interior, por falta de uso, diria.
Desabituamo-nos de caminhar por nós adentro; de repousar nos recantos mais serenos do mundo interior e de olhar de frente as montanhas e os precipícios, as tempestades e as bonanças, que tantas vezes nos fazem quase desfalecer.
Esta é a “condição humana”: frente e verso, direito e avesso. Este é o nosso modo de ser terreno: uma árvore, cujos ramos, pequenos e grandes, jovens ou idosos, se estendem pelo tempo e pelos espaços fora e cujas raízes se desenvolvem no interior de cada um; raízes que se aprofundam por nós adentro, que se emaranham, que dão consistência interior.
De mansinho entrámos num tempo especial para os cristãos, um tempo litúrgico sempre novo, sempre tempo para além do “comum”. Quarenta dias, não são pouca coisa. Quarenta dias e quarenta noites em que as noites e os dias nos convidam, na sua sucessão ininterrupta, a viajar por dentro, a procurar mais intensamente o íntimo e ousar olhar o emaranhado interior; ousar levar-lhe um pouquinho de luz.
Isabel Varanda
in Oração da Manhã (RR) 10 de Março