Sempre me orgulhei da minha flexibilidade mas não me refiro à flexibilidade física que não é grande coisa. Refiro-me à flexibilidade mental. Sempre julguei que me conseguia adaptar facilmente a novas situações, a novos desafios. E pensava que assim era por ter, ao longo da minha vida profissional, mudado bastantes vezes de equipa de trabalho, por não me acomodar à rotina, por procurar sempre novas formas de fazer as coisas, por questionar sempre os procedimentos e as causas dos diferentes problemas com que me deparava. Mas devo confessar que, nos últimos tempos e talvez por estar a ficar mais velho (fiz ontem 47 anos), me tenho apercebido que, afinal, não sou assim tão flexível. Na maior parte das vezes em que julguei que mudava, apenas me enganei a mim próprio mantendo muitas das minhas prisões. Vou dar um exemplo:
Em determinada fase da minha vida que considero a minha “Idade Média”, a minha fase mais negra, fumei. Fumava um maço de tabaco por dia mas nunca muito mais do que isso. Fumei durante cerca de 10 anos e quando deixei de o fazer, no dia 25 de Abril de 1995, foi para nunca mais tocar num cigarro. Ainda hoje não me permito tocar num cigarro, vendo o tabaco como uma doença. Para mim é isso que o tabaco representa, embora conheça bastantes pessoas que fumam e que eu considero como bastante equilibradas e saudáveis.
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(foto adicionada em 2022.08.24) O meu irmão com a minha mãe no sul de França, usando uma t-shirt com a inscrição: "Sou livre não fumo". |
Um dos meus maiores orgulhos foi ter conseguido deixar de fumar. Incomodava-me ver o alcatrão sair no muco escuro pelo meu nariz. Tenho sinusite/rinite e o tabaco nunca foi grande ajuda. Admito que passar a sentir os pulmões limpos, leves e libertar-me daquele cheiro pesado foi uma das minhas maiores vitórias e alegrias. Mas sabem uma coisa? Ainda hoje dou comigo a fumar sem cigarro. Ainda hoje me pergunto: porque não fumo apenas um? E sei a resposta: porque não posso! Eu ainda sou doente. Ainda não reconquistei o equilíbrio. Ainda não conquistei a minha liberdade. Mas também é para isso que cá ando…
Existe um equilíbrio que cada um tem de encontrar dentro de si. É aquele equilíbrio que encontramos após uma boa meditação. É aquela tranquilidade que encontramos na Oração, numa visita ao Sacrário. É isso mesmo: o meu substituto para o tabaco foi a Religião (no sentido da busca de Deus –
religare). É um facto que acredito estar melhor agora do que quando fumava mas ainda não encontrei a Liberdade; encontrei um caminho para a alcançar. Por enquanto continuo preso mas ainda não desisti de procurar a cura final. Uma coisa é importante: a responsabilidade pelo meu estado é minha e não do processo que escolhi para me curar!
Por isso vou continuar pedindo:
Jesus, tem piedade de mim!
Jesus, cura-me!
Jesus, salva-me!
Jesus, liberta-me!
Lembrei-me agora de uma frase que li algures e que diz aproximadamente o seguinte:
Existem 3 Filipes. O Filipe que eu julgo que sou, o Filipe que os outros julgam que eu sou e aquele que realmente Eu Sou. São 3 pessoas diferentes mas é na medida em que estas 3 versões se aproximam entre si que aumenta a coerência e o equilíbrio de cada um. Acrescento também ser minha convicção pessoal que todos partilhamos uma essência comum e Divina.
Peço hoje a Deus, no dia seguinte ao meu aniversário, que me ajude a mudar. E peço a Deus que me ajude a ser uma pessoa melhor, mais coerente com a minha essência Divina, com aquilo que de melhor existe em mim. Peço a Deus que este meu propósito sirva, não apenas a minha felicidade pessoal mas também daqueles que me rodeiam, dos meus familiares mais próximos, dos meus amigos e de todas as pessoas com quem me cruzo ao longo da vida.
Peço a Deus, que me dê o discernimento e a força para quebrar as amarras que criei ao longo destes anos. Peço a Deus que me ajude a destruir essas amarras que me limitam, que não me permitem mudar e Ser Maior.
Obrigado,
Manuel Filipe Santos
Oeiras, 29 de setembro de 2012.