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sábado, 15 de junho de 2024

Até já Vera

 


Só me apetece chorar e fiquei com o coração bem apertadinho pensando em ti.

São agora 3h20 da manhã e acordei a meio da noite. Abri o telemóvel para ver se estava carregado, entrei no Facebook e, para minha dor, percebi que partiste. Li que o teu funeral foi ontem pelas 15h30. Tinha pensado em ti no dia do teu aniversário a 13 de maio e tocou-me muito a dor que vi na tua imagem com as amigas que te visitaram. 


Daqui te envio um grande abraço, que nunca tive a coragem para te procurar e dar, durante estes meses em que te segui pelo Facebook. Daqui de Fátima, onde estou há 3 dias, neste mesmo instante, eu rezo por ti.


Foi há quase de dois anos que te conheci graças a um post do Luís Osório no Facebook que me tocou bastante. Nesse mesmo dia, pedi a tua amizade e encomendei o teu livro “Se puder adiar a morte”, pelo Messenger. O livro só chegou no dia do meu aniversário em 2022 e no processo trocámos mensagens que guardo com muito carinho, pela simpatia das tuas palavras que transpiram a grandeza do teu coração. 


Nessa mesma altura, li um texto teu no Facebook que achei lindo e para o qual senti a necessidade de criar um vídeo: Éramos quase uma feira. Merecias uma homenagem bem maior, pelo teu exemplo e generosidade, mas peço a Deus que estas minhas palavras cheguem aos Céus onde sei que tens um lugar muito especial.


Um grande abraço do coração,

Filipe. 

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Há uma porta que pode ser aberta

POSTAL DO DIA 


A atriz que saltou para o abismo na Ponte 25 de Abril (e todos os outros que o fizeram)


1.

Uma ouvinte e leitora do Postal do Dia contou-me que uma imagem não lhe sai da cabeça. 


Fecha os olhos e lá está o rapaz na Ponte 25 de Abril a abandonar o carro e a saltar para o fim. 


A Fernanda é mãe e já avó. 

Vinha da casa da filha em direção a Lisboa, viu uma sombra a perder-se na escuridão, uma sombra que agora não consegue apagar da sua cabeça. 


Como a sombra de tantos e de tantas que já não conseguem mais, que desistem. 


Como a sombra da atriz Ana Afonso, também ela náufraga em vida, desesperada a ponto de saltar para um abismo de que nada se sabe. 


2.

Tu que me ouves, ou que me lês, e que estás desesperado. 


(ou desesperada)


Ou que sabes o que é isso, que já viveste isso. 


Ou que estando bem, sabes bem que o fio é ténue entre a tranquilidade e o atropelo. De repente, tudo nos parece acontecer e há um caminho para baixo que nem sabíamos que existia. 


Mas atenção. 


Há caminho para cima. 


Sei do que falo. 


Também eu já entristeci.

 

Vi a pessoa que mais amava, a mãe que sozinha decidiu que eu devia nascer, derrotada durante toda a minha juventude. 


Sei o que é o sofrimento. 


E sei o que é a redenção, o que nos pode acontecer, o que te pode acontecer se não desistires. 


Podes sentir-te traído pelo amor. 

Podes ter dívidas. 

Podes estar desavindo com os teus pais, filhos. 

Podes ter feito coisas horríveis, ter maus pensamentos, tudo isso. 


Mas acredita que há uma porta que pode ser aberta se o quiseres. 


Nada do que sofres é definitivo, por incrível que agora te pareça nada é definitivo… nem o horror e a tristeza. 


Talvez não vejas a porta que se abre, mas há uma porta que se abre, não desistas antes de a encontrar. 


Não desistas da pessoa que irás encontrar e que ainda não conheces. 


Do trabalho que te irá fazer sorrir e que ainda não sabes. 


Do telefonema que ainda não fizeste. 

Do almoço que te fará outra vez sentir o gostinho da infância. 


Do livro que não leste. 

Da música que não ouviste. 

Do filme que não viste. 


Vale a pena, tudo vale a pena. 

Até as sombras…. 

Depois de encontrares a porta, até elas te ajudarão. 


LO


Linha SNS24 (disponível 24h todos os dias)


808 24 24 24


Voz de apoio (21h-00h)


22 550 60 70


SOS Estudante (22h – 1h)


23 948 40 20/ 91 524 60 60/ 96 955 45 45


Telefone da Amizade (16h-23h)


22 832 35 35


Conversa Amiga (15h-22h)


808 237 237/ 210 027 159


SOS Voz Amiga (15h30-00h30)


21 354 45 45/ 91 280 26 69/ 96 352 46 60

fonte: Mural de Luís Osório 

Postal do Dia de Luís Osório 


terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Mensagem aberta a Luís Osório

 

Boa noite Luís Osório

Sou um grande admirador e seguidor dos seus postais diários mas não posso deixar de tentar responder a uma(ou duas) das suas perguntas:
“sem tudo isso, sem todas essas tragédias conseguiríamos nele pensar? Faria ele sentido se estivéssemos empanturrados de uma farta vida?”. 
Vou tentar responder partilhando a minha experiência: nunca me faltou nada nesta vida e, desde que me lembro, sempre procurei uma causa primeira de todas as coisas. Esta minha procura sempre coincidiu com a minha vontade de ser cientista, de encontrar o porquê das coisas e da Vida, no seu todo, que sempre me fascinou. Acabei como Engenheiro Informático trabalhando para um banco mas acreditando num Deus(Pai/Mãe) Criador(a) que me foi dado a conhecer pelo Coração e não pela Razão, já em adulto, num retiro Católico que com muita gratidão nunca esquecerei.
Nesses dias, “encontrei” um Deus que ama incondicionalmente toda a sua criação, respeitando o livre arbítrio de todos os seus filhos. A criação divina é Perfeita, a nossa ilusão, a nossa crença na separação, o nosso sentimento de culpa é fonte de todo o mal. 
Mas somos convidados a ser co-criadores, a seguir Jesus que é o Caminho, a Verdade e a Vida. E esse caminho é o Amor, perdoando tudo aquilo que entendemos como agressão, como injustiça. Eu, pessoalmente, tento fazer a minha pequena parte, não aumentando aquela ilusão de separação, tendo consciência de que não sei tudo, desconhecendo as causas de tanto sofrimento neste mundo mas acreditando que somos nós humanos os maiores e primeiros responsáveis pelos maiores males que a todos  afligem, nomeadamente a guerra, a fome, a solidão. Está mas mãos de cada um construir um mundo mais solidário: foi por isso que Deus nos deu um Coração. 
Sei que esta mensagem pode ter tocado o seu.
Um grande abraço, Filipe.

Mural de Luís Osório 


No dia em que escrevi esta mensagem tinha sido escrito:
Se Deus não fosse uma ficção, as guerras seriam impossíveis, as barbáries, a morte de crianças, a fome e qualquer miséria humana.”
Ontem o meu querido Luís escreveu isto a propósito da partida de Sara, a mãe de João Neves:
Se Deus existe, e eu acredito que sim, a Sara ainda será Sara até que os seus dois pequeninos precisem dela.
Fico tão contente com este sinal de Esperança! 
Parabéns Luís.


terça-feira, 3 de janeiro de 2023

As últimas palavras de Bento XVI…

POSTAL DO DIA 


As últimas palavras de Bento XVI não me descansam 


1.

Bento XVI morreu e o seu corpo está a ser velado no Vaticano. Milhares de fiéis esperaram horas para poder oferecer a sua homenagem ao “guardião da fé”.


Bento XVI surpreendeu-me. 


E merece ser aplaudido por algumas das marcas que nos deixou: a começar pelo modo como abdicou de todo o poder, o primeiro que o fez nos últimos 600 anos na Igreja Católica. 


Não é coisa pouca. 

Um homem que abdica do poder, um homem que percebe que já não o poder exercer, um homem que o consegue apesar de todas as pressões que deve ter sofrido dos seus mais próximos, dos que com ele perderiam regalias e estatuto, é tudo menos um pormenor. 


2.

Bento XVI era um intelectual. 


Um homem que pensava. 

Que lia e escrevia. 

Um homem que falava várias línguas, que lia diretamente do hebraico, que gostava e precisava de longos retiros para se sentir ele próprio. 


Um intelectual tem dificuldades muito particulares no exercício do poder. E quando o exercício do poder significa uma influência direta em relação à vida de milhões de pessoas, a coisa piora. Não é fácil encontrar um intelectual que não tenha dificuldades na tomada de posição, regra geral quando assume o poder tenta que a sua natureza não seja prevalecente em relação ao desígnio da ação – na maior parte dos casos não dá bom resultado. 


Bento XVI conseguiu deixar uma marca importante. 


E talvez de uma forma inadvertida abriu espaço para Francisco, um líder completamente diferente. 


3.

Li com enorme prazer a biografia que escreveu sobre Jesus Cristo. 


Extraordinário contributo para a compreensão, sem ortodoxias da figura do filho de José e Maria, do “filho de Deus” para tantos de nós. Para mim também, apesar de não ser religioso, para mim também. 


Esta introdução para reforçar a força e o interesse da última frase que saiu da boca de Bento XVI antes de partir. 


Um enfermeiro de turno, o último que viu o Papa Emérito vivo, escutou as palavras e passou-as ao mundo. Bento XVI terá dito em italiano, “Senhor, eu amo-te”.  


4.

Uma frase importante que me fez pensar esta manhã. 


Uma última frase que, tendo acontecido ou não, ficará para a história. 


Mas que diz um pouco sobre o muito que devemos refletir para que a nossa passagem por aqui – a minha e a tua – possa ser virtuosa. 


Estou há muitos anos convencido de que o mais importante não é amarmos uma ideia de transcendência. Apesar de acreditar em Deus não faz sentido estar todos os dias inclinado perante o silêncio quando a relação com o que me transcende só pode ser alimentada por aquilo que eu fizer aqui. 


Dizer que amo Deus antes de partir é muito bonito e importante, não o nego. 


Mas muito mais importante é a capacidade de sermos todos os dias pessoas inteiras. 

De sermos gente que acredita que o caminho se faz aqui, que o combate contra as iniquidades, contra a miséria humana, contra as injustiças se faz aqui. 


Essa é a batalha, termos a capacidade de dizer que amamos a vida, esta que temos e não qualquer outra que exista fora de nós. 


Que amamos a possibilidade de podermos ser o que sonhamos. De podermos ganhar sem atropelar a pessoa ao lado. De podemos escrever e ler livros, ver peças de teatros e filmes, imaginar caminhos nunca caminhados, responder a perguntas nunca respondidas ou simplesmente fazer o melhor possível. 


Estar à altura do que a vida nos propõe. 

Mesmo que a nossa vida seja estreita ou que a julguemos estreita, temos de fazer o melhor possível com o que somos, com o que herdámos. 


Acredito em Deus, mas no final da minha vida diria “amei cada minuto que aqui passei, cada possibilidade que tive de ser melhor, de fazer melhor, cada falhanço também”. 


Porque o meu Deus, como já escrevi num livro a que chamei “Amor”


“… Não tem voz grossa, tem a que imagino. O meu Deus não me castiga, oferece-me liberdade. O Meu Deus não me chantageia, acredita na responsabilidade. O meu Deus não me corta o desejo, recomenda-me uma canção. O meu Deus dança comigo quando danço sem par. O meu Deus tem humor, escuto-o e sei do que falo. O meu Deus está aqui, se me virar rápido ainda o vejo. O meu Deus é um pressentimento, uma promessa, é o bem e o mal, sou eu nos piores dias. É esperança e virtude. O meu Deus acredita em mim”. 


Foi isso que escrevi e talvez um dia, quem sabe, o possa discutir com Bento XVI numa qualquer língua que hoje não conheço.


LO

fonte: Luís Osório 

Bento XVI


quinta-feira, 29 de abril de 2021

A todos quero servir

 

Texto escrito em complemento ao
Postal do dia de Luís Osório de dia 18 de Abril.

Adicionado como comentário no post:

Caro Luís Osório, com muita gratidão pelo seu "postal" permita-me acrescentar esta minha publicação, sob a forma de complemento e com toda a estima deste seu seguidor 🙏

A todos quero servir
Nesta sociedade em que todos vivemos, 
que é a melhor que até hoje conseguimos construir, 
existem ainda muitas armadilhas 
de que todos acabamos por ser vítimas. 
Tanto "Cristina" como "Marcelo", 
acabam por cair nos mesmos "pântanos", 
em que quase todos se afundam 
e dos quais muito poucos se livram. 
Ao contrário do Luís, 
o meu modelo actual é mais próximo 
da teoria do bom selvagem. 
Em coerência com este mesmo modelo, 
ao invés de julgar, 
importa analisar o que pode estar por trás,
ou na origem,
de uma determinado comportamento ou atitude, 
dando prioridade a uma 
observação estrita dos factos,
analisando emoções 
e necessidades envolvidas. 
Nem sempre é fácil fazer isso 
pois muitas vezes os novelos 
são demasiadamente intrincados, 
os fios de esparguete demasiadamente longos 
e os "nós" estão muitas vezes 
exageradamente apertados. 
É por esse motivo que os bloqueios à cura são, 
tantas vezes, 
tão difíceis de ultrapassar.
Estou hoje convicto que o Amor,
alicerçado numa ausência de julgamento
com foco em cada "nó" concreto e
complementado por uma enorme tolerância
perante cada situação,
se apresenta como o único caminho que nos permitirá
Despertar e desenrolar toda esta enorme ilusão
que criamos ao longo de tantos milhares de anos.
A minha esperança de Cura para toda a Humanidade,
é apoiada em obras como Fratelli Tutti que apontam
para caminhos de uma construção fraterna 
de uma sociedade melhor.

Sem mais, 
apresento os meus mui respeitosos cumprimentos,
man@
Oeiras, 29 de Abril de 2021.
💖💚💙




domingo, 21 de junho de 2020

Postal do dia

Pedro Lima ( 1971 - 2020 )
POSTAL DO DIA
Pedro Lima
1.
No dia em que saí do Rádio Clube recebi muitas mensagens, telefonemas e abraços.
“Luís, estou contigo”
“Luís, estamos juntos”
“Luís, para a semana telefono e vamos jantar”
“Luís, não te desampararei”
Luís, isto, aquilo e aqueloutro.
No dia seguinte a mesma coisa.
Na semana seguinte, quase nada.
Um mês depois recebi um telefonema.
Era um homem que eu não conhecia bem. Tínhamo-nos encontrado um par de vezes com amigos comuns, mais nada.
“Olá, Luís… é o Pedro Lima, lembras-te?”
O Pedro queria apenas dizer que estava ali, que gostava da minha escrita, das minhas ideias e que sabia bem o que era estar apenas por sua conta.
2.
No dia em que lancei “Mãe, promete-me que lês”, ele estava lá.
O nosso olhar encontrou-se, senti-o comovido, quase tanto como eu. Era o meu livro, mas era também o seu… um livro de vida e desamparo, um livro que (soube-o depois) representava uma viagem à sua própria experiência e a uma infância e juventude sem a presença da sua mãe.
3.
Pedro Lima morreu hoje.
Não interessa dizer muito mais.
Foi uma das mais generosas pessoas que conheci.
Era também uma das pessoas que mais enganava…
o seu sorriso iluminava o mundo, mas não conseguia acender um caminho de salvação para os seus fantasmas.
A sua presença encantava, mas os seus olhos escapavam-se algumas vezes para um lugar que apenas a ele estava reservado.
4.
Era ator.
Pai de cinco filhos.
Tinha a mesma idade que eu.
Queria muito encontrar um lugar de apaziguamento e houve momentos em que isso quase lhe pareceu ser possível.
“Luís, as coisas estão a correr tão bem! Corre tudo como num sonho. É aproveitar enquanto dura”, escreveu-me numa mensagem em meados de 2016.
5.
Partiu hoje e era muitas outras coisas.
Surfista.
Modelo.
Leitor.
Nadador olímpico.
Curioso do mundo.
E sempre a iluminar-nos no seu sorriso.
Obrigado, Pedro…
E prometo-te uma coisa: daqui a um mês telefono-te… livra-te de não me atenderes.
Luís Osório (1971), jornalista e escritor
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