Depois tropeçamos nele, fingimos que a culpa foi do tapete.
Dizemos que está tudo bem quando não está.
Sorrimos por educação enquanto morremos por dentro.
Resolvemos as coisas “depois”, adiamos conversas, engolimos o nó na garganta como se fosse uma pastilha que um dia há-de dissolver-se sozinha.
Não dissolve.
Nunca dissolve.
Um dia rebentamos.
No trânsito, numa discussão absurda sobre quem devia ter lavado a loiça, numa resposta irracional.
O lixo vem todo ao de cima, acumulado, fermentado: um monstro criado à custa de silêncios, de recalcamentos.
A culpa não é nossa.
Nunca é nossa.
A culpa é do trabalho, do tempo, do país, do chefe, da inflação, da vida.
A culpa é do tapete. O tapete que existe para que possamos fingir.
Continuamos.
Pisamos o tapete, sentimos debaixo dos pés tudo o que varremos.
Até tropeçarmos de novo.
~Pedro Chagas Freitas
A RARIDADE DAS COISAS BANAIS
Disponível em todos os hipermercados e livrarias
fonte: LinkedIn
É o que se chama "ter o saco cheio", tentamos e dizemos o que não queremos😕
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